Alta da Selic é entrave na compra do imóvel
Decisão restringe o crédito e dificulta os investimentos no mercado imobiliário, avaliam especialistas
Panorama Imobiliário
Cristiane CamposO mercado imobiliário reagiu com preocupação à mais nova alta da Selic (taxa básica de juros), que passou de 11,25% para 12,25% ano ano. A coluna ouviu especialistas do setor e todos concordaram que a decisão do Copom (Comitê de Política Monetária) é entrave para as incorporadoras e para o cliente final. Em nota, a Abrainc (Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias) ressaltou que a medida intensifica os desafios enfrentados pela economia brasileira. “Os juros elevados restringem o acesso ao crédito, dificultam investimentos e ampliam as despesas financeiras de famílias e empresas, com efeitos profundos em diversos setores produtivos do país, comprometendo sua sobrevivência. A medida, porém, foi necessária para reduzir a pressão inflacionária e a alta do dólar”.
A associação disse ainda que, nos últimos 12 meses, o pagamento dos juros da dívida pública foi de R$ 870 bilhões e que o aumento de cada ponto percentual da Selic eleva essa quantia em cerca de R$ 48 bilhões, de acordo com estudo do Banco Central. “O Brasil já ocupa o terceiro lugar no ranking mundial de juros reais, com uma taxa de cerca de 8,1%, atrás apenas de Turquia e Rússia. Com isso, o cenário atual exige ações concretas para aliviar os custos estruturais da economia. É urgente que o governo realize cortes nos gastos públicos para estabelecer um equilíbrio fiscal de longo prazo, condição imprescindível para reduzir os juros de forma sustentável”, avaliou a Abrainc. Confira a opinião de outros especialistas do setor:
Claudio Hermolin, presidente do Sinduscon-Rio (Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado do Rio de Janeiro)
“A decisão pode causar um grande impacto na indústria da construção civil e do mercado imobiliário, tendo em vista que ela pode influenciar no aumento da taxa de juros do crédito imobiliário. Lembrando que a Selic é de curto prazo e o crédito imobiliário tem juros de mais longo prazo, mas, certamente, será afetado. A Selic a 12,25% influencia na tomada de decisão de investidores em retirar os seus recursos de uma aplicação para investir na produção, porque quanto maior os juros, menor esse apetite ao risco e mais seguro tende para o investidor manter o seu dinheiro aplicado e não investido na produção. Além disso, aumenta também a taxa de juros para o crédito à produção que permite às incorporadoras e construtoras desenvolverem os seus projetos. A taxa Selic em 12,25% corre o risco de frear a retomada do mercado imobiliário e da construção civil que, chegam ao final de 2024, com recordes históricos de lançamentos e vendas”.
Marco Adnet, sócio-diretor da Konek Transformação Imobiliária
“É um comunicado muito forte do Copom no sentido de que a tendência é de se repetir este aumento nas próximas reuniões. E a base disso tudo é, de fato, a inconsistência que há na política fiscal, a frustração do anúncio do último pacote fiscal, que foi absolutamente vazio, e que leva todos a perceberem claramente que o governo está em um descontrole orçamentário muito grande. A tendência é isso deteriorar muito as contas públicas, pois cada vez mais o mercado vai exigir taxas maiores para poder continuar comprando título público. Esse sistema deveria fazer o dólar cair, mas a gente ainda vê a moeda americana precificada a um patamar alto, o que mostra uma evasão também de divisas no sentido de ativos reais. Esse é o único ponto positivo para o mercado imobiliário. O setor é um porto seguro e é por meio dele que os ativos conseguem superar as grandes crises monetárias. Já vimos esse filme no Brasil muitas vezes. Tudo começa com descontrole fiscal, que não está sendo diferente dessa vez, assim como foi no segundo governo da Dilma. Tivemos um descontrole fiscal exagerado que levou à inflação e ao PIB (Produto Interno Bruto) negativo durante três anos. Então, temos hoje ainda um PIB positivo e acreditamos que o setor de construção civil pode ser uma dessas molas propulsoras do PIB, na medida em que se respeite a carga tributária imposta ao setor e que o mesmo continue sendo esse porto seguro. Isso porque muitos investidores buscam ativos com boa rentabilidade e locação, especialmente em áreas como o Rio de Janeiro, cujo estoque imobiliário é muito baixo. Quase não existe estoque no Rio porque todos os lançamentos que aconteceram em 2024 tiveram um sucesso de vendas muito grande. Os estoques foram consumidos nos últimos cinco anos, inclusive na pandemia. Então, esse é o ponto positivo nesse cenário de juros altos em que a cidade, por ter um estoque muito baixo, vai continuar vendendo bem o imóvel e vai ser um porto seguro para o investidor que quer proteção da inflação”.
João Eduardo Correia, vice-presidente do Creci-RJ (Conselho Regional de Corretores de Imóveis)
“A recente elevação de 1 ponto percentual na taxa Selic, que agora está em 12,25%, já começa a mostrar efeitos diretos no mercado imobiliário. Um dos principais reflexos é a redução do crédito habitacional, uma vez que os custos dos financiamentos aumentam, com taxas de juros mais altas, o que eleva o valor das prestações. Esse cenário tende a reduzir a demanda, uma vez que muitos potenciais compradores podem adiar seus planos de aquisição de imóveis, aguardando condições mais favoráveis. A queda na demanda também pode pressionar os preços dos imóveis para baixo, o que deve ser desafiador para quem já tem um imóvel ou para investidores do setor. No entanto, essa situação também pode criar oportunidades. Para os compradores, a chance de adquirir imóveis a preços mais baixos pode ser vantajosa, principalmente quando se considera a possibilidade de portabilidade do financiamento. Com a queda das taxas de juros no futuro, quem comprar agora poderá transferir seu financiamento para instituições que ofereçam melhores condições, garantindo uma redução do valor das prestações”.
Elcilio Brito, presidente da Lopes Rio
"O aumento da Selic é preocupante para o mercado imobiliário, principalmente para as unidades prontas, pois dependem imediatamente do financiamento. Acredito que neste segmento haverá uma redução de até 40% na comercialização. Já para os lançamentos do econômico, incluindo o Minha Casa, Minha Vida, a queda será menor, entre 20% e 25%, mas, mesmo assim, também impacta. De toda forma, a decisão mexe com o todo o setor. No caso do incorporador, ele agora pegará um crédito ainda mais caro para desenvolver seus empreendimentos na planta. Já para o cliente deste perfil, no futuro ele poderá encontrar uma Selic mais baixa, pois o financiamento bancário do imóvel só acontecerá daqui a uns dois anos”.