Sexta-feira (13) na saúde de Cabo Frio
As portas da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Parque Burle, amanheceram fechadas
Política Costa do Sol
Renata CristianeCabo Frio - Nesta sexta-feira (13), dia frequentemente associado ao azar, as portas da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Parque Burle, em Cabo Frio, amanheceram fechadas. A situação tem gerado caos e revolta entre moradores e pacientes que aguardavam atendimento. De acordo com relatos, os profissionais da saúde, que estão com salários atrasados ou com quantias faltando, estão realizando apenas atendimentos de extrema emergência na sala vermelha, que já se encontra lotada.
Do lado de fora da unidade, a cena é descrita como desesperadora. Pacientes passando mal, inclusive pessoas em tratamento contra o câncer que dependem de atendimento diário, e outros com balão de oxigênio, aguardavam sem sucesso. Moradores denunciam que o cenário reflete o colapso do sistema de saúde local.
Enquanto isso, surgem informações de que Bruno Alpacino, secretário municipal de Saúde e aliado próximo da prefeita Magdala Furtado (PV), teria solicitado exoneração do cargo. A motivação ainda não foi divulgada. Diretores da área da saúde também renunciaram aos cargos mais cedo, alegando falta de insumos e condições inadequadas de trabalho.
Também anunciaram a exoneração aos cargos no início desta manhã os diretores do Hospital Municipal São José Operário (HMSJO), Sérgio Lívio Menezes Couceiro, médico responsável pela Unidade de Pacientes Graves (UPG), e Gilberto de Angelo Filho, diretor médico da unidade. A decisão foi motivada pela falta de insumos básicos, como luvas e soro, além dos atrasos recorrentes no pagamento de salários. De acordo com os profissionais, as condições atuais tornam inviável a realização de procedimentos médicos com segurança.
A precariedade no HMSJO é confirmada por relatos dos próprios médicos. Um cirurgião da unidade relatou que, na semana passada, precisou realizar uma cirurgia sem soro disponível. “Não posso assumir essa responsabilidade. Vamos fazer um documento, entrar com uma denúncia no CRM e registrar um Boletim de Ocorrência (B.O.)”, afirmou. Até mesmo itens básicos, como receituário para prescrição de medicamentos, estão em falta.
Os atrasos nos salários, embora parcialmente quitados para alguns profissionais, continuam sendo uma fonte de insatisfação. Médicos e cirurgiões, que têm vencimentos mais altos, alegam não terem recebido os valores de forma integral. “Não é só uma questão de pagamento, mas de segurança para os pacientes e condições adequadas para o trabalho da equipe médica e de enfermagem”, reforçou um dos médicos.
Além dos insumos e pagamentos, a falta de suporte atinge até os trabalhadores de serviços gerais, responsáveis pela limpeza da unidade. Denúncias apontam que, na última semana, apenas cinco litros de cloro foram enviados para a higienização de todo o hospital. Os profissionais também criticaram a gestão da prefeita Magdala Furtado. “Desde que essa mulher entrou, estamos trabalhando na merda”, desabafou um médico.
Diante da situação, cerca de 30 médicos se reuniram para elaborar um documento coletivo que será entregue ao Conselho Regional de Medicina (CRM). A medida tem como objetivo eximir os profissionais de qualquer responsabilidade por emergências que não possam ser atendidas devido à falta de condições mínimas de trabalho. Também será registrado um Boletim de Ocorrência para formalizar a denúncia.
A crise no HMSJO reflete o colapso no sistema de saúde pública de Cabo Frio. Em nota, a prefeitura negou a exoneração do secretário da pasta e informou que os atendimentos de urgência seguem acontecendo, mas não esclareceu acerca dos outros, tampouco sobre quando a situação será regularizada. Confira na íntegra:
“Até o presente momento não procede a informação sobre a exoneração do secretário de saúde Bruno Alpacino.
Com relação ao atendimento na UPA, a Prefeitura de Cabo Frio informa que os atendimentos de urgência e emergência continuam sendo realizados na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Parque Burle, no Hospital Central de Emergência (HCE) e no Hosp. Otime Cardoso dos Santos. Na UPA, os pacientes estão entrando para fazer triagem pela porta lateral. Os casos mais urgentes estão recebendo atendimento”