Rio - O lateral-direito Daniel Alves, uma das principais lideranças da seleção brasileira, foi cortado da convocação para a Copa do Mundo da Rússia por causa de uma grave lesão. Submetido a uma cirurgia no ligamento cruzado do joelho direito, ele ainda não tinha prazo para voltar aos gramados às vésperas do Mundial. O prejuízo é do PSG, que vai bancar os salários de um atleta em recuperação. Mas isso pode ser evitado com um seguro específico para o mundo do futebol. A JLT, corretora de seguros e resseguros, administra apólices para cerca de 15 clubes europeus das principais ligas do mundo. Agora, a empresa está em negociações com quatro equipes de ponta do futebol brasileiro. Uma cláusula de confidencialidade impede a seguradora de revelar quais são esses times.
Veja o vídeo: as apólices para o futebol brasileiro
Esse tipo específico de apólice já opera na Europa há mais de 30 anos, quando o argentino Diego Armando Maradona e os holandeses Ruud Gullit e Marco van Basten brilhavam na Itália, a elite do futebol mundial da época. Apesar disso, ainda não existem apólices específicas voltadas para os clubes brasileiros. A única iniciativa do tipo é mantida pela CBF há apenas dois anos. O contrato, administrado pela subsidiária brasileira da Prudential, garante cobertura por morte, invalidez por acidente ou funcional por doença aos 12 mil atletas profissionais com contratos ativos na entidade. A proposta da JLT é bem diferente. O principal atrativo é a possibilidade de bancar salários de atletas que se recuperam de lesão, minimizando os prejuízos dos clubes, que hoje bancam salários astronômicos na elite do futebol brasileiro.
Veja o vídeo: segunda parte da entrevista com o vice-presidente da Prudential
Como o seguro é calculado - Vamos pegar o caso do meia Diego, um dos jogadores mais bem remunerados no elenco do Flamengo e do país. O salário dele (cerca de R$ 700 mil por mês) é usado como base para estipular o valor da apólice. O cálculo é bem específico. Leva em consideração o histórico de lesão do atleta, a idade e a posição onde ele atua. Com isso, pode variar de 0,5% a 1,5% em relação ao salário. No caso de Diego, poderia variar de R$ 3,5 mil a R$ 10,5 mil por mês. Com uma folha salarial de R$ 108 milhões por ano só com atletas, o Flamengo pagaria de R$ 540 mil a R$ 1,6 milhão para bancar esse tipo de seguro.
Um caso emblemático aconteceu com Cruzeiro, que contratou o centroavante Fred por R$ 750 mil mensais. Em março, ele rompeu o ligamento do joelho direito. Até janeiro de 2019, ele receberá R$ 7,5 milhões quase sem entrar em campo. "Na Europa, os clubes entendem que a apólice minimiza o prejuízo. O setor de seguros ainda engatinha no futebol brasileiro", explica Marcelo Blanquier, diretor de riscos para Esportes e Entretenimento JLT Brasil.
JLT ESTUDA O FUTEBOL BRASILEIRO HÁ DOIS ANOS
Com apólices de 15 equipes das principais ligas da Europa, a corretora de seguros e resseguros JLT estuda os detalhes do mercado nacional há dois anos. Hoje, há apenas seguros de vida tradicionais no Brasil. Em conversas com a CBF, Marcelo Blanquier, diretor de riscos para Esportes e Entretenimento da JLT Brasil, obteve até mesmo informações do seguro da seleção brasileira na Copa da Rússia.
A vantagem de um produto específico para a modalidade é a garantia de amenizar prejuízos com o pagamento de salários de jogadores lesionados. "É uma proteção financeira, que transfere o risco para a seguradora. Os clubes já perceberam que isso é importante. Quando um grande comprar uma apólice, a informação vai repercutir entre os outros clubes", projeta Blanquier.
Em conjunto com os setores financeiro e médico, o seguro é calculado de acordo com histórico de lesão, idade, posição e salário de cada jogador. "Estou conversando com dirigentes para implantar essa cultura no futebol brasileiro. O problema é que o pessoal ainda não vê isso como um investimento", critica o diretor da JLT. Ele acredita que um negócio possa ser fechado até o fim do ano, abrindo as portas para esse tipo de seguro no país. "O importante é a conscientização de que isso só traz benefício ao clube. Estamos quase chegando lá".
Pesquisa na Premier League - Um dos argumentos usados pela JLT para falar da importância do seguro é uma pesquisa anual feita pela própria seguradora em Londres. Nos seis primeiros meses da Premier League 2017/2018, as contusões custaram 134 milhões de libras (quase R$ 700 milhões). Até 6 de fevereiro, foram 438 lesões de atletas em atuação no futebol inglês. Em média, 22 casos por equipe, apontou o levantamento.
No documento, a seguradora traçou um paralelo com o Brasil. 'A cobertura padrão contratada pelos clubes brasileiros é muito básica, a maioria tem apenas o seguro de vida tradicional, que só indeniza a família em caso de morte ou acidentes', afirma o estudo. 'As lesões acabam sendo uma perda dentro de campo, mas também nas contas, principalmente se for levado em consideração que no Brasil os atletas costumam jogar em diferentes campeonatos ao mesmo tempo, o que aumenta a chance de contusões', conclui o documento.
SEGURADORAS EXPANDEM ÁREA DE ATUAÇÃO NO MEIO ESPORTIVO
A relação entre o futebol e o setor está cada vez mais próxima no país. A JLT, corretora de seguros e resseguros, negocia uma apólice específica com quatro clubes brasileiros. Se firmado, o acordo irá obrigar a seguradora a bancar o salário de jogadores lesionados, preservando o clube de prejuízos milionários, que costumam ocorrer quando um atleta de ponta fica fora dos gramados enquanto se recupera. Há pelo menos outras duas empresas em atuação no universo esportivo. A subsidiária da Prudential, por exemplo, administra um contrato firmado com a CBF, iniciativa que garante direito a coberturas para cerca de 12 mil atletas com contratos ativos vinculados à entidade máxima do futebol no país.
A seguradora também mantém seguros individuais com atletas brasileiros de outras modalidades. Em cada três profissionais de alta performance segurados pela Prudential, dois são jogadores de futebol. O número é significativo, já que a empresa possui 366 atletas na sua carteira de clientes.
Atletas no Brasil e no exterior - Entre eles, 47 atletas atuam em clubes do exterior e 82 estão em equipes da série A do Campeonato Brasileiro. Mas não há só clientes na elite do futebol. Cerca de 70 dos clientes da Prudential atuam nas séries B, C e D do Brasileirão. E outros 33 profissionais da bola estão desempregados, segundo levantamento feito pela própria empresa a pedido da coluna.
Carlos Guerra, vice-presidente de Vida em Grupo da Prudential do Brasil, reforça a importância desse tipo de seguro para jogadores de futebol. "Os atletas se arriscam e trabalham os limites do corpo com o objetivo de vencer e desafiar recordes, além de terem uma carreira geralmente mais curta", argumenta.
Assistência 24 horas - No ano passado, a Sompo Seguros S.A., que integra o Grupo Sompo Holdings, lançou um seguro de vida desenvolvido para atender especificamente as necessidades dos jogadores de futebol em atuação no país. O produto oferece cobertura por invalidez total por acidente, desenvolvida para atletas profissionais. O seguro também conta com serviços de assistência 24 horas. "O seguro atende a uma janela de oportunidade existente no mercado futebolístico", garante Edglei Monteiro, diretor de Seguro de Vida da empresa. O seguro pode ser contratado por clubes de futebol ou investidores.
OS SEGUROS MILIONÁRIOS DE MESSI E CRISTIANO RONALDO
Em tempos de Copa do Mundo, o setor de seguros também entra em campo. Nem os astros consagrados do futebol ficam alheios às apólices. As pernas do português Cristiano Ronaldo, escolhido pela Fifa como o melhor jogador do mundo, estão protegidas por um acordo milionário. O contrato feito pelo Real Madrid estipula uma multa de 103 milhões de euros em caso de lesão grave, o equivalente a cerca de R$ 449 milhões. Foi o mesmo valor investido na reforma da Arena da Baixada para receber a Copa de 2014. E mais que o dobro do valor estipulado pelo Barcelona para cobrir o argentino Lionel Messi, que conta com um seguro de 51 milhões de euros.
As informações foram reveladas em um estudo feito pelo site espanhol Acierto, especializado na comparação todos os tipos de seguros. Para chegar aos valores das apólices, são levadas em consideração as lesões, a posição do jogador, o número de jogos que disputa em cada temporada, a idade, a constituição física e até os hábitos de vida fora dos gramados.
Entretanto, o Barça fez uma proteção pessoal por Messi com duas seguradoras italianas que chegam a 550 milhões de euros, atingindo os R$ 2,4 bilhões na conversão para a moeda nacional. Para garantir essas apólices, o clube espanhol desembolsa cerca de 400 mil euros por ano (R$ 1,7 milhão). Não é exatamente uma novidade no mundo da bola. Antes deles, craques como o brasileiro Ronaldo, o francês Zidane e o inglês David Beckham também contaram com esse tipo de proteção.
Tragédia da Chapecoense - No Brasil, a CBF assinou há dois anos um contrato com a Itaú Seguros, garantindo direito a coberturas para cerca de 12 mil atletas profissionais com contratos ativos na entidade. A apólice contratada, que passou a ser administrada pela subsidiária brasileira da Prudential, garante ao beneficiário cobertura por morte por qualquer causa, invalidez por acidente ou funcional por doença. O seguro foi acionado após a tragédia da Chapecoense para pagar a indenização das famílias dos atletas mortos no acidente aéreo. As coberturas feitas pela CBF para os atletas brasileiros são calculadas conforme o salário do jogador multiplicado por 12 vezes. O valor máximo é de R$ 1,2 milhão.
Mas não são apenas os atletas profissionais que podem ser beneficiados desse tipo de seguro. Em maio do ano passado, a Federação Mineira de Futebol (FMF) fez seguro de vida e de acidentes para cerca de 30 mil atletas amadores que disputam campeonatos amadores e ligas municipais em Belo Horizonte. Os benefícios variam de R$ 2 mil a R$ 20 mil em casos de invalidez permanente ou morte. Para o jogador lesionado ter direito ao seguro, o lance deve ocorrer dentro do gramado e precisa estar relatado em súmula pelo árbitro.
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