Incêndio destrói prédio do Museu Nacional: espaço estava irregular junto ao Corpo de BombeirosAlexandre Brum
Por Herculano Barreto Filho
Publicado 05/09/2018 06:00 | Atualizado 05/09/2018 06:28

Rio - O incêndio que destruiu o Museu Nacional expôs a precariedade na estrutura de prédios históricos no país. Mas também colocou em evidência o abandono e a inexistência de políticas públicas para conservar a memória do país. Sem seguro e brigada de incêndio, o museu teve 90% do seu acervo consumido pelas chamas. "Não existia aqui no museu e acredito que em nenhum outro museu exista uma brigada de incêndio. Este é um 'custo a mais'. Nenhuma peça era assegurada que eu saiba", afirmou Cristina Serejo, vice-diretora do museu, em entrevista concedida ontem de manhã.

Um cenário que não surpreende quem atua no ramo. Sérgio Ricardo de Magalhães Souza, professor da Escola Nacional de Seguros e especialista em Gestão de Risco, acredita que uma eventual cobertura nesse tipo de local seria vetada pela própria seguradora. "Existe uma obrigatoriedade de seguro por lei. Como a administração pública está vinculada à lei das licitações, é preciso construir um edital para cotações. Mas isso não quer dizer que uma seguradora vai cobrir um local em péssimas condições", argumenta.

Incêndio destruiu Museu NacionalAlexandre Brum

ÁGUA QUE APAGA A HISTÓRIA

Para o especialista, combater o incêndio com água, o único recurso disponível, mostra o despreparo para lidar com a situação. A primeira etapa é detectar o calor e a fumaça para agir rapidamente, o que não ocorreu porque o pé direito do prédio é muito alto. Em seguida, o ideal seria utilizar extintores de incêndio, que não estavam disponíveis no local. "A primeira ação de combate a incêndio em museu não é água. O uso do gás carbônico dos extintores, por exemplo, não deixa sequelas no local. Se o fogo não puder ser controlado dessa forma, aí sim entra a água. Mas é o pior dos recursos, porque não permite a preservação", explica Sérgio Ricardo.

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INEXISTÊNCIA DE CÓDIGO NACIONAL DE INCÊNDIO

O especialista critica a inexistência de um código nacional de incêndio capaz de adotar medidas de preservação do patrimônio público. "Se não tem gerenciamento de risco, não tem seguro. Estamos falando de um negócio, que envolve proteção financeira. Nenhuma seguradora se interessaria em fazer seguro para um lugar que está caindo sozinho. Aquele prédio de 200 anos com uma estrutura cheia de instalações elétricas improvisadas e produtos inflamáveis não tinha as mínimas condições para abrigar um acervo histórico", critica.

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