Rio - O setor de microsseguros enfrenta um importante obstáculo para se expandir: o produto é pouco conhecido pelo público que mais precisa desse tipo de cobertura. É o caso do ambulante Carlos André Reis, de 48 anos, que ganha a vida vendendo produtos por R$ 1 em frente à Central do Brasil. Aos 11, saiu de casa, no Morro da Providência, para comprar leite para a irmã recém-nascida. Mas decidiu investir em um pacote com doces para vender na rua. Voltou para casa com o dinheiro. "De lá para cá, nunca mais parei", contou, enquanto oferecia balas no grito. Carlos tem seis filhos e 11 netos. Ele já trabalhou com carteira assinada como cobrador de ônibus por dois anos. Na época, tinha apólice. Embora reconheça a importância de ter esse tipo de proteção, acredita que não teria condições financeiras de pagar pela cobertura. "Nunca ouvi falar nesse tipo de seguro", disse. José Nerivaldo, de 47 anos, que ganha a vida vendendo película de vidro para celular no mesmo local, é casado e tem duas filhas. Ele acharia importante ter um seguro de vida. "Mas não tenho dinheiro para isso".
Edson Calheiros, presidente da Associação Nacional das Microsseguradoras, não se surpreendeu com esse tipo de reação. "Temos seguro de vida que custa R$ 50 por ano, mas a população desconhece. Esse tipo de apólice é feita para pessoas que realmente precisam. O problema é que o 'segurês' afasta o público. Precisamos aproximar a população, com uma linguagem mais popular", propôs. Calheiros acredita que os contratos precisam ser mais diretos.
Uma das ideias, que integra as 22 propostas do setor aos presidenciáveis, sugere a criação de benefícios fiscais para empresas que investem em microsseguros para funcionários. "A empresa que resolve fazer seguro de assistência-funeral poderia pegar esses recursos e abater na carga tributária. Isso acabaria estimulando as empresas. É um seguro social", argumenta Calheiros.
PARCERIA COM SINDICATOS
O setor também busca parcerias com outros setores do mercado de trabalho. Como a contribuição sindical deixou de ser obrigatória, os sindicatos estão buscando formas de atrair sindicalizados. Para isso, precisam oferecer benefícios que justifiquem a contribuição voluntária. Um deles é o microsseguro. Os sindicatos estão buscando microsseguradoras para formatar produtos para os profissionais.
Na Equatorial Seguradora, ele firmaram convênio no mês passado com o Sindicato dos Policiais Civis do Distrito Federal (Sinpol DF). Criaram seguro de vida para policiais civis que sejam sindicalizados, na modalidade de microsseguro. Isso só é possível porque o serviço tem valores menores, coberturas mais simples, apólices didáticas. No caso do seguro por morte, por exemplo, o parente não fica rico, mas deixa de ficar endividado. "Essa é a lógica. A pessoa deixa de gastar e recebe todo o suporte fazendo um pagamento acessível. O fato de as pessoas de baixa renda estarem protegidas significa qualidade de vida para essas camadas da sociedade", explica Aldo Faleiro, vice-presidente e acionista da Equatorial.
REGULAÇÃO DO AGENTE DE SEGUROS
A regulamentação do agente de seguros, que também aparece entre as propostas aos presidenciáveis, pode ajudar no desenvolvimento dos seguros inclusivos. Caso isso ocorra, a Escola Nacional de Seguros pode auxiliar na formação desse profissional. "A Escola se dedica ao ensino e à pesquisa da atividade de seguro. Somos responsáveis pela habilitação de corretores que vendem o microsseguro. Se houver uma regulamentação detalhada sobre os agentes de seguro, estaremos prontos para contribuir com a formação desses profissionais", diz o professor Aluizio Barbosa.
Segundo ele, há uma diferença na comparação com o corretor, que defende os interesses do segurado. Já o agente busca soluções para as microsseguradoras. "O mercado pleiteia a regulamentação para essa formação", explica Aluizio. A Escola oferece cursos específicos, workshops e palestras sobre o microsseguro. Os corretores interessados no segmento também podem obter habilitação na unidade.
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