Rio - Considerada imprescindível pelo governo Bolsonaro e pelo mercado para a recuperação econômica do país, a Reforma da Previdência nem começou a tramitar e já está emperrada na Câmara. Os desgastes políticos entre o presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e o presidente, Jair Bolsonaro, frearam os trabalhos do parlamentar, que já atuava como principal articulador do texto.
Servidores públicos, os mais afetados com as regras da PEC 6, consideram ter mais tempo agora para convencer o Legislativo a mudar alguns itens, como a progressividade de alíquota.
Não há sequer data para o anúncio do relator da proposta na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). E a ideia inicial era de conclusão dos trabalhos pelo colegiado até 2 ou 3 de abril. O presidente da CCJ, Felipe Franceschini, que é do PSL, mesmo partido de Bolsonaro, declarou ontem que vai esperar o ambiente político melhorar.
Na verdade, o embate entre Maia e o governo acabou sendo um ingrediente a mais para atrasar o andamento da PEC no Congresso, pois o fato de o projeto de lei de reforma previdenciária dos militares ser considerado bem mais "brando" que a proposta aos civis irritou muitos deputados. Até parlamentares da base governista declararam abertamente essa insatisfação.
A proposta de Reforma da Previdência de integrantes das Forças Armadas (Aeronáutica, Exército e Marinha) prevê reestruturação de carreira, aumentando, assim, o gasto público. E a economia prevista com esse projeto estima uma economia de apenas R$ 10,45 bilhões em 10 anos, enquanto os cálculos do Executivo apontam que a PEC 6 (de reforma para os civis) vai gerar economia de R$ 1 trilhão em igual período, confirmando diferenças expressivas.
'Nova política'
Maia já vinha perdendo a paciência com a falta de articulação de Bolsonaro na Câmara. O presidente da República também disse, na quinta-feira, que "deputados queriam a velha política". Os próprios aliados do governo têm reclamado da falta total de diálogo do Executivo no Parlamento. Líder do PSL, Delegado Waldir foi um dos que fizeram a crítica.
Sobre a declaração de Bolsonaro, o presidente da Câmara respondeu então que "faria a nova política" e esperaria o Executivo conseguir os votos necessários para aprovar a PEC 6 e, assim, levar à votação. "Responsabilidade a partir de agora é do governo", disse.
Maia também vem sendo atacado nas redes sociais por apoiadores de Bolsonaro, que cobram que ele paute o pacote anti-crimes do ministro Sérgio Moro. O parlamentar já havia negociado que a reforma seria a primeira proposta a tramitar antes da proposta de Moro.
E, ontem, o parlamentar explodiu após o vereador Carlos Bolsonaro (PSL), filho do presidente, publicar em seu Twitter uma frase ironizando o deputado federal: "Por que o presidente da Câmara anda tão nervoso?".
Depois de o presidente da Câmara lavar as mãos na costura política da reforma, Bolsonaro tentou uma trégua. Mas, em sua declaração, comparou o democrata a uma namorada que quer ir embora.
"Quando uma namorada quis ir embora o que fez para ela voltar, não conversou? Estou à disposição para conversar com o Rodrigo Maia, sem problema nenhum", disse à jornalistas no Chile.
E para apagar o incêndio, não faltaram bombeiros. O senador Flávio Bolsonaro (PSL) elogiou Maia: "O presidente da Câmara é fundamental na articulação para aprovar a Nova Previdência e projetos de combate ao crime. Como nós, está engajado em fazer o Brasil dar certo!".
Líder do governo, Joice Joice Hasselmann (PSL-SP) também enalteceu o democrata e disse que está sendo "grande aliado da reforma". E afirmou que o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, também está dedicado a "sanar ruídos": "É um pacificador, assim como Maia".
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