Publicado 15/05/2021 06:00
A morte do ex-deputado estadual Jorge Picciani, vítima de câncer, aos 66 anos, significa o fim de um ciclo de poder no Rio de Janeiro que reinou absoluto por 20 anos. O primeiro mandato foi conquistado em 1990, mas foi de 2003 a 2010, no exercício da presidência da Alerj, que o fluminense acompanhou a habilidade de um político que tornou-se a materialização do poder. A volta em 2015, após ficar quatro anos afastado, só ratificou a certeza de que todos os governadores que ocuparam o Palácio Guanabara no período de seu reinado na Assembleia só tomavam decisões importantes depois que Picciani as tivesse autorizado. Os seus últimos dias foram duros tanto do ponto de vista pessoal, ao enfrentar a doença que o levou, como na resposta necessária a denúncias graves que colocaram em xeque sua reputação. Quando presidente licenciado da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), Picciani foi acusado de receber R$ 49,9 milhões em propinas de empresários de ônibus, entre julho de 2010 a julho de 2015, em 34 ocasiões distintas, segundo a denúncia do MPF ao Tribunal Regional Federal da 2ª Região (RJ e ES).
POLÍTICO HÁBIL
A primeira vez que tive contato com o então presidente da Alerj, eu era âncora da rádio CBN e ele me pediu alguns minutos ao telefone para esclarecer uma denúncia do Ministério Público de que existiria "trabalho escravo" numa das suas fazendas. Entendi que suas ponderações deveriam chegar ao ouvinte e marcamos sua participação na edição do programa no dia seguinte. A entrevista foi uma bomba. Mais tarde, ele agradeceu à emissora e disse que ninguém lhe deu voz para que ele se defendesse daquela maneira, mesmo a entrevista tendo sido veemente. O deputado considerou a oportunidade como um exemplo de respeito jornalístico ao direito de defesa. E, dali em diante, firmamos uma relação de confiança entre o jornalista e a fonte. Qualquer dúvida que eu tinha, ele me respondia prontamente. Sua assessora de imprensa de 2002 a 2017, Daniella Sholl, conta que "Picciani era um craque da política não apenas porque sabia como ninguém decifrar pesquisas (estatístico de formação, era um devorador de números), mas, sobretudo, porque sabia ler a alma das pessoas. Aquela cara de bravo escondia um coração generoso e sensível. 'Homem de Palavra' era a sua melhor alcunha. Papo reto. Com ele não tinha 'talvez', 'quem sabe'. Era sim ou não. Objetivo. Leal. Polêmico, também. Como dizia o jornalista Fernando Molica, 'com Picciani em campo, não tinha coluna de jornal em branco'".
POLÍTICO HÁBIL
A primeira vez que tive contato com o então presidente da Alerj, eu era âncora da rádio CBN e ele me pediu alguns minutos ao telefone para esclarecer uma denúncia do Ministério Público de que existiria "trabalho escravo" numa das suas fazendas. Entendi que suas ponderações deveriam chegar ao ouvinte e marcamos sua participação na edição do programa no dia seguinte. A entrevista foi uma bomba. Mais tarde, ele agradeceu à emissora e disse que ninguém lhe deu voz para que ele se defendesse daquela maneira, mesmo a entrevista tendo sido veemente. O deputado considerou a oportunidade como um exemplo de respeito jornalístico ao direito de defesa. E, dali em diante, firmamos uma relação de confiança entre o jornalista e a fonte. Qualquer dúvida que eu tinha, ele me respondia prontamente. Sua assessora de imprensa de 2002 a 2017, Daniella Sholl, conta que "Picciani era um craque da política não apenas porque sabia como ninguém decifrar pesquisas (estatístico de formação, era um devorador de números), mas, sobretudo, porque sabia ler a alma das pessoas. Aquela cara de bravo escondia um coração generoso e sensível. 'Homem de Palavra' era a sua melhor alcunha. Papo reto. Com ele não tinha 'talvez', 'quem sabe'. Era sim ou não. Objetivo. Leal. Polêmico, também. Como dizia o jornalista Fernando Molica, 'com Picciani em campo, não tinha coluna de jornal em branco'".
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