Publicado 05/05/2019 03:00 | Atualizado 05/05/2019 10:19
Rio - O fundo do oceano sofre com a proliferação de um invasor de alta reprodutividade: o coral-sol. O grave problema de ordem ambiental afeta também 5% da economia mundial - R$ 1 trilhão por ano -, segundo estimativa do Ministério do Meio Ambiente. A rápida reprodução desse animal marinho causa a morte de outras espécies, interferindo na cadeia alimentar. Pode resultar em menor oferta de peixes e afetar o turismo. No Rio, esse fenômeno ocorre principalmente na Costa Verde. Para minimizar o problema, foi criada a primeira plataforma colaborativa no Brasil para rastrear esse inquilino indesejado.
O Projeto Coral-Sol, do Instituto Brasileiro de Biodiversidade (BrBio), criou o software Bioinvasão Brasil, acessível pelo endereço www.bioinvasaobrasil.org.br. Qualquer cidadão engajado no tema pode colaborar com informações sobre locais onde existam esses invasores.
Até o momento, há 380 pontos monitorados nos litorais do Rio e São Paulo. Desses, 315 na costa fluminense. São 153 em Ilha Grande, dos quais 103 (67%) estão contaminados pela presença do coral-sol. É o que indica um estudo da coordenadora do projeto e professora da Uerj em Biologia Marinha, Beatriz Fleury.
"O fato de a plataforma receber contribuições externas permitirá um maior envolvimento da sociedade no combate às espécies invasoras marinhas, alertando para a importância da conservação marinha. Isso tem tudo a ver com o propósito do BrBio de fazer a ponte entre os pesquisadores e a sociedade em geral", destaca a pesquisadora Simone Oigman-Pszczol, diretora-executiva do BrBio.
Classificado pela ONU no relatório Global Biodiversity Outlook como animal de maior impacto negativo na biodiversidade local, o coral-sol tem duas espécies em atividade no Brasil: a Tubastraea coccinea, que veio do arquipélago de Fiji, na Oceania, e a Tubastraea tagusensis, originária da Ilha de Galápagos (América do Sul), um dos locais com maior incidência de animais exóticos invasores.
Existem diversos fatores que contribuem para que o coral-sol seja tão perigoso para a biodiversidade local. No Oceano Pacífico, seu habitat natural, a espécie possui centenas de concorrentes do gênero que disputam espaço e alimento, enquanto a costa brasileira possui apenas 18. Aqui, o invasor não possui predadores.
Diretamente do Pacífico
Trazida nos cascos de navios petroleiros vindos do Oceano Pacífico na década de 1980, a espécie de animais invasores se instalou primeiramente nas plataformas de petróleo e de gás da Bacia de Campos e, em seguida, nos costões rochosos de Ilha Grande, no Estado do Rio de Janeiro.
No decorrer das últimas décadas, esse tipo de coral, que não possui predador natural, se alastrou por outros estados do litoral brasileiro. Hoje, eles ameaçam a biodiversidade e, consequentemente, turismo e pesca locais.
"Se chega outra (espécie) que se reproduz mais rapidamente, a espécie nativa, mais lenta, acaba diminuindo a longo prazo", explica Kátia Capel, pesquisadora da UFRJ. Além do coral-sol, há registro de outras espécies invasoras e nocivas à biodiversidade nativa, inclusive em terra firme. Animais como javali, caramujo-gigante-africano e capim-annoni, por exemplo, agem de forma semelhante.
*Estagiário sob supervisão de Antero Gomes
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