Por bianca.lobianco

Rio - Para uma edição que comemora o Dia Internacional da Mulher (que acontece na próxima quarta-feira), nada melhor que uma homenagem a uma mulher com trajetória admirável: Laura Cardoso. Aos 89 anos, a atriz acumula trabalhos memoráveis e quer mais. “São 74 anos de carreira e ainda sonho com os personagens que vou fazer’, conta.

Aos 89 anos%2C Laura Cardoso acumula trabalhos memoráveis e quer maisMárcio Mercante / Agência O Dia

Dona Laura, como é chamada carinhosamente pelos colegas, está no ar em ‘Sol Nascente’ como Dona Sinhá, uma simpática senhorinha, mas que de boa não tem nada: é movida pela vingança e ambição desde o início. Usava o filho já falecido, Wladimir, e faz o mesmo com o neto César (Rafael Cardoso), sempre contra Tanaka (Luis Melo). E cerca-se de cúmplices para atingir seus objetivos a qualquer preço. Uma vilã das boas. “Foi um presente do Walther Negrão e da Suzana Pires. Quando me deram, pensei: ‘Deixa ver aqui o que faço com ela’”, diverte-se. “Ela é uma vilã, mas damos muita risada no estúdio. Eu, Cuoco (Francisco Cuoco), a Aracy (Balabanian). O vilão é rico, dá para humanizar, tem peso e pode ser divertido. Tem mil coisas para fazer com ele”.

Laura Cardoso%3A 'A carreira me dá realização e alegria. Sou uma mulher de sorte no meu trabalho'Márcio Mercante / Agência O Dia

Com a novela chegando ao fim em 21 de março, Laura garante não saber o destino da personagem, mas torce para que o final da vilã não seja moralista. “Falei para os autores que não gostaria que ela morresse e nem fosse presa. Isso retrataria um tipo de situação bem atual no nosso país: ela foge, linda e maquiada”, opina. Ela fala do trabalho com entusiasmo e está feliz de ter retornado ao set, após o afastamento recente de três meses, por um quadro de infecção urinária. “Senti muita falta dos atores, da equipe. São família para mim também”, diz a atriz, que trabalha na TV desde os 17 anos, e voltou à trama com força total.

Assim que o folhetim terminar, Laura pretende descansar, mas não sabe por quanto tempo. “É maravilhoso trabalhar. Esse universo faz parte de mim, mas o ritmo é intenso. Você entra de manhã e nunca mais sai. Outro dia, estava pensando: ‘Passei a vida meio no escuro, dentro do estúdio’. Mas amo o que faço. Não vivo sem isso”, ri.

FAZENDO HISTÓRIA

Uma mulher de coragem, determinada. Foi assim desde o início da vida profissional. Filha de pais portugueses, primeira e única artista na família, descobriu na infância a vocação para o ofício que viraria sua “missão de fé” na vida. “Eu era a menina que lia numa sala de aula, já com a primeira plateia, minha turma. Já gostava um pouquinho de me exibir”, confessa. “No início, meu pai não gostou, a profissão de atriz era marginalizada na época. Ele chiou, minha mãe resistiu. Fui em frente”, revela.

Laura CarsosoMárcio Mercante / Agência O Dia

Quando começou como atriz de rádio, não tinha ideia de que pouco depois ajudaria a construir a história da televisão brasileira, com uma dramaturgia muito própria. “Em 1950 veio a TV. Comecei a fazer e não parei mais. Nenhum de nós naquela época tinha noção que estava fazendo história. Só existia trabalho, muito trabalho, não havia essa coisa de ser estrela. Queríamos acertar, fazer o público acreditar. Conseguimos”, comemora a atriz, que tem uma carreira reconhecida e até condecorada: em 2006, recebeu do Ministério da Cultura a Ordem do Mérito Cultural, concedida a personalidades e instituições que se destacam por sua contribuição à cultura brasileira. Laura é direta quando fala sobre a profissão: “Nós somos operários, não estrelas.

Laura CarsosoMárcio Mercante / Agência O Dia

Nosso trabalho é artesanal. Essa coisa de fama, às vezes, fica na frente do trabalho, da obra. É uma carreira de amor e coragem diárias”, reflete. E ensina: “O ator que está começando precisa entender se é isso mesmo que deseja. A estrada não é fácil, mas é maravilhosa, apesar das pedras no caminho. Nosso ofício tem que ser levado a sério. Não pode só pensar no sofá branco e na piscina”.

A atriz, mãe, avó e bisavó está satisfeita com o caminho e o legado que construiu até aqui. “Tenho uma família amorosa, linda. A carreira me dá realização e alegria. Sou uma mulher de sorte no meu trabalho, nunca tive desgosto com a carreira, ela sempre foi generosa comigo. Se me queixasse, seria uma louca. Se não fosse atriz, não seria mais nada na vida”.  


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