Por nadedja.calado

Paris - Houve um tempo em que a Alta-Costura vestia a mulher para seu dia a dia, e esse costume foi resgatado pela maison Dior nessa segunda-feira, na Semana de Moda de Alta-Costura de Paris, com uma coleção sóbria, em contraste com o mundo de sonhos da holandesa Iris Van Herpen.

A diretora artística da Dior, Maria Grazia Chiuri, usou uma grande gama de cinza em looks elegantes e austeros, de modelagem clássica, com cinturas marcadas por um cinto fino, chapéus fedora e mocassins.

As modelos desfilaram em meio a um "atlas", entre esculturas de animais de madeira e diferentes tipos de vegetação, exibindo um estilo masculino, embora o desfile também tenha dado espaço para delicados vestidos de cores escuras, longos, transparentes e decotados.

Musa da marca%2C Natalie Portman compareceu ao fashion showReprodução Internet

Marcando o 70º aniversário da maison, a estilista italiana disse que queria homenagear seu fundador, Christian Dior.

"Lembramos muitas vezes dos vestidos de flores do senhor Dior, os de noite, mas ele era um estilista que criou muitas peças para se usar durante o dia: jaquetas, camisas...", disse Maria Grazia Chiuri em entrevista à AFP.

"Nessa época, a Alta-Costura era outra coisa, era feita para o dia a dia, não somente para ocasiões especiais", lembrou, fazendo referência à época posterior à Segunda Guerra Mundial, quando Dior concebeu seu lendário "New Look".

Além de viajar no tempo, a estilista fez uma nova leitura para sua coleção: vestir uma mulher viajante, intrépida, inspirada nas exploradoras como a britânica Freya Stark.

Essas mulheres eram "muito valentes, se vestiam como homens", algo que refletiu em seu desfile para o próximo outono-inverno, explicou Chiuri.

A maison Dior também celebra seu aniversário com uma grande exposição em Paris, que a partir dessa semana vai mostrar ao público cerca de 300 vestidos de Alta-Costura, confeccionados entre 1947 e a atualidade.

Iris Van Herpen: superlativo 

Os aplausos ressonaram durante vários minutos após o desfile da holandesa Iris Van Herpen, em um circo parisiense, em um cenário de fantasia, acompanhado de um show com músicos em um enorme tanque, tocando instrumentos e cantando debaixo d'água, levantando a cabeça de tempos em tempos para respirar.

Van Herpen disse que o grupo de artistas dinamarqueses, "Between Music", "durante uma década desenvolveu uma técnica submarina para cantar e tocar música".

A grife Iris von Herpen impressionou pela ousadiaReprodução Internet

"Me senti muito inspirada por esse processo e quis colaborar com eles. Literalmente mergulhei nos elementos da água e do ar", acrescentou.

O resultado - combinando a confecção manual com alta tecnologia - são vestidos de noite longos, brilhantes e sedutores, que as modelos usavam como escamas, transformando-as em sereias.

"A fluidez é muito importante, mas também a forma com que os tecidos podem fluir do branco ao preto, algo que me parece uma bela qualidade da água", disse a estilista, cuja marca completa uma década.

O surrealismo de Schiaparelli

Schiaparelli apresentou uma coleção de fantasia, que recuperou seus símbolos emblemáticos, como a lagosta, o sol, o coração e as peças de quebra-cabeça, para trazer um toque de surrealismo aos vestidos em tule e musselina, com babados e plissados.

Os desfiles de Alta-Costura terminam nesta quarta-feira após a apresentação de 35 marcas, a maioria participando do evento como "convidada". 

Somente 15 marcas em todo o mundo fazem parte do exclusivo clube da Alta-Costura, como Dior e Schiaparelli, seguindo a característica principal - além dos preços exorbitantes - de confeccionarem peças sob medida.

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