Camila está desaparecida há 1 semana  - Arquivo Pessoal
Camila está desaparecida há 1 semana Arquivo Pessoal
Por Charles Rodrigues
 Um suposto relacionamento pela Internet pode ter motivado o desaparecimento da jovem Camila Vieira Marques, de 22 anos. Ela está desaparecida, desde a manhã do dia 11 de setembro, após sair de casa, no bairro Cova da Onça, na Zona Norte de Niterói. De acordo com a família, Camila era uma jovem tranquila, dócil e não tinha o costume de sair sem avisar. Contudo, como a maioria dos jovens, passava longo tempo trocando mensagens nas redes sociais e, segundo familiares, pode ter sido vítima de aliciadores. Ela foi vista, pela última vez, embarcando em um ônibus, que seguia para o centro de Niterói. Vestia blusa regata, bermuda jeans e estava com uma mochila. O aparelho celular da jovem está desligado.
“Minha filha não gostava de baladas, ir à festas e, até quando saía à casa das amigas, avisava e mantinha contato. Ela vinha mantendo uma relação com um rapaz, pela internet, há cerca de 1 ano. Gostava de trocar mensagens pelas redes sociais com várias pessoas, mas nunca percebemos nada anormal. Na véspera do sumiço, ela jantou comigo, disse que estava com dor de cabeça. Achei ela um pouco estranha. Mas, conheço a minha filha, caso tivesse algum problema, teria contado. Ela nunca saiu de casa sem avisar. Estamos desesperados”, contou a mãe, a auxiliar de serviços gerais Eliane Souza Vieira, de 41 anos, que acredita na hipótese de a filha ter sido aliciada, por algum estranho, nas redes sociais.
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O pai, Cláudio José Marques, 51 anos, contou à polícia que, no dia do desaparecimento, deixou a filha dormindo com o irmão para levar a mulher em um ponto de ônibus. Só percebeu o sumiço quando retornou. “Era muito cedo. Deixamos os dois filhos dormindo. Assim que retornei em casa, passou um tempo, fui ao quarto e ela não estava lá”, lamentou Cláudio. Há uma semana, a família faz uma mobilização na cidade para encontrar o paradeiro de Camila. “Organizamos uma rede de amigos, confeccionamos camisas e contamos com a ajuda de todos para encontrarem a minha sobrinha. A família está desesperada. É uma jovem maravilhosa, que não dava problemas para os pais”, emendou a tia de Camila, Marcela de Souza Vieira, de 35 anos.


Investigações – De acordo com familiares, foi feito um contato pelo telefone celular de Camila, cerca de duas horas após o desaparecimento, na manhã do dia 11 de setembro. A partir dali, o aparelho foi desligado. Policiais do setor de Descobertas de Paradeiros da Delegacia de Homicídios/Niterói/ São Gonçalo, já localizaram e fizeram contato com o rapaz com quem Camila mantinha um relacionamento pela Internet. Segundo os investigadores, o rapaz negou envolvimento no desaparecimento da jovem e se colocou à disposição da Justiça. Os agentes solicitarão à quebra dos sigilos telefônicos dos envolvidos e imagens de câmeras dos locais onde, supostamente, a jovem teria passado.

De janeiro a agosto deste ano, foram registrados 2.133 desaparecimentos no Estado do Rio de Janeiro, segundo o Instituto de Segurança Pública (ISP).

Relacionamento pela internet é 'um campo minado', alertam especialistas
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Com o avanço das redes sociais, os relacionamentos virtuais ganharam destaque e, no mundo globalizado, atingem pessoas em todo o mundo. Contudo, apesar das facilidades e criação de leis para coibir crimes cibernéticos, especialistas alertam que a Internet ainda é um “campo minado”, sobretudo, em casos envolvendo relacionamentos pessoais e movimentações financeiras.
“Estamos há anos militando no enfrentamento e prevenção aos desaparecimentos. Tem sido comum casos envolvendo relações pela internet. Na maioria, envolvem adolescentes e jovens, que, após relacionamentos virtuais, marcam encontros e desaparecem. Eles ficam à mercê de iminentes perigos e deixam as famílias desesperadas. O diálogo é a melhor prevenção. Quando os pais perceberem mudanças de hábito dos filhos ou algum relacionamento abusivo devem intervir com uma conversa franca. Os abusadores, geralmente, são permissivos e não demonstram suas reais intenções ”, disse Jovita Belfort, coordenadora do setor de Prevenção e Enfrentamento ao Desaparecimento de Pessoas da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos.  
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Fragilidades emocionais podem determinar a vulnerabilidade das vítimas
A psicóloga Alessandra Alves Soares credita à Internet apenas o fator facilitador. Com experiência em atendimentos a patologias semelhantes, Soares aponta a instabilidade emocional como gatilho para o aumento da incidência dos casos de golpes e aliciamentos nas redes sociais. “O problema não é a Internet. Os desiquilíbrios emocionais e as carências, na maioria dos casos, determinam a vulnerabilidade das vítimas. Os criminosos, que estão por trás das telas, se aproveitam dessas fragilidades. Ainda que não exista uma hegemonia de gênero, as mulheres acabam sendo mais suscetíveis, por conta, sobretudo, das carências afetivas e das relações amorosas idealizadas. Isso ocorre tanto no mundo virtual, quanto no real. Portanto, os filtros de defesa devem partir do fortalecimento emocional, das prevenções e do diálogo”, esclarece a psicóloga.