Sheila desapareceu, há cinco dias, após sair da manicure  - Arquivo Pessoal
Sheila desapareceu, há cinco dias, após sair da manicure Arquivo Pessoal
Por Charles Rodrigues
 O registro da última ligação telefônica se tornou uma das principais pistas investigadas pela polícia para desvendar o desaparecimento de Sheila Cristina Guimarães Viana, de 37 anos. Ela sumiu, na tarde da última quinta-feira, após sair da manicure, no bairro Porto Novo, em São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Sheila vestia short jeans, camisa preta com top estampado, sandálias da cor salmão e uma bolsa a tiracolo marrom. Família e amigos realizam buscas, há cinco dias, por diversas áreas e cidades vizinhas.
De acordo com policiais do setor de Descoberta de Paradeiros, da Delegacia de Homicídios de Niteroí/ São Gonçalo, o aparelho celular de Sheila foi desligado, logo após o desaparecimento. Apontado como suspeito, um comerciante, que já teria trocado mensagens nas redes sociais com a vítima, já prestou depoimentos à polícia. Ele negou envolvimento no caso e se colocou à disposição da Justiça.
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De acordo com familiares, Sheila foi diagnosticada com dislexia (deficiência cognitiva moderada), contudo, mantinha, com normalidade, as rotinas domésticas e os relacionamentos sociais. “É uma pessoa simpática e alegre. Está frequentando aulas de dança e, sempre que pode, tem o costume de fazer caminhadas com as vizinhas. A dislexia nunca a impossibilitou de manter a rotina social. Nossa única preocupação eram as trocas de mensagens com desconhecidos pela Internet, pois ela é muito inocente”, disse a irmã, a especialista em Recursos Humanos Cristiane Guimarães Viana, 40 anos.
De acordo com a família, o horário do último contato de Sheila, nas redes sociais, ocorreu antes de sair da manicure. “Determinados assuntos, ela conversava com amigas e pessoas do seu convívio, mas, temendo represálias, evitava comentar com a família. Namoros e relacionamentos, por exemplo, eram assuntos velados. Ela disse a outras pessoas que estava mantendo um relacionamento e que iria ao encontro de um suposto namorado. A ligação telefônica pode ser uma pista”, acrescenta Cristiane.
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Investigações – A polícia identificou um dos suspeitos, um comerciante, acusado de ter trocado mensagens com Sheila por uma rede social. Em depoimento, ele confirmou ter mantido contatos com a vítima, mas negou envolvimento com o desaparecimento. Após instauração do inquérito, a polícia avaliará a possibilidade de solicitar à Justiça a quebra de sigilo telefônico para rastrear às últimas ligações realizadas pelo aparelho celular da vítima e as gravações das imagens de câmeras, de comércios e residências da região, onde ela teria percorrido antes do desaparecimento.

Desaparecimentos de pessoas com transtornos psiquiátricos são recorrentes
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Desaparecimentos de pessoas portadoras de algum tipo de transtornos psiquiátricos ocorrem com frequência e correspondem a 12,2% de casos. Ficam atrás, somente, dos sumiços sem motivos aparentes, que registram a maioria das ocorrências, anotando 60% do total de aproximadamente 26 mil compilados em um estudo feito pelo Programa de Localização e Identificação de Desaparecidos (Plid), no Ministério Público do Rio de Janeiro.
No entanto, apesar de recorrentes, os casos podem ser evitados com medidas preventivas, segundo especialistas. Para a psicóloga Alessandra Alves Soares, a família deve promover autonomia e estimular áreas em que a pessoa apresenta dificuldades de interação.
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"Torna-se importante esclarecer que deficiência mental diz respeito a uma limitação no desenvolvimento das funções que são importantes para interagir com o meio. Algumas das habilidades, como comunicação e autocuidado, por exemplo, podem ficar comprometidos. Portanto, para evitar que a pessoa com deficiência mental se coloque em risco, é eficaz o estímulo nas áreas em que ela apresenta dificuldades de interação. Nesses casos, torna-se fundamental o  tratamento com uma equipe multidisciplinar, envolvendo psicólogos, fonoaudiólogos e terapeutas ocupacionais", esclarece a psicóloga.   
‘Ainda é um assunto tabu e a falta de tratamento pode estimular novos casos’
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A despeito dos consideráveis números relativos aos desaparecimentos de pessoas portadoras de transtornos de saúde mental, especialistas alertam para o efeito tabu, que ainda circunda esse universo, e as consequências da ausência do diálogo e dos tratamentos adequados.
“Digo sempre que esse assunto precisa ser enfatizado e colocado em voga nos debates sobre casos de desaparecimentos. Esse transtorno, seja psicológico ou psiquiátrico, ainda é um assunto tabu e, a falta de tratamento, pode estimular novos casos. São problemas que atingem todas as classes sociais e precisam de tratamentos adequados para evitar a fuga do lar e os desaparecimentos. Nos casos mais graves, sobretudo, quando acometem idosos, orientamos as famílias colocarem pulseiras e cordões usados no Exército, para identificar esses pacientes”, explica Jovita Belfort, coordenadora do setor de Prevenção e Enfrentamentos ao Desaparecimentos de Pessoas da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos.