Luciano está desaparecido, há cinco dias, após sair de casa na Baixada
Luciano está desaparecido, há cinco dias, após sair de casa na BaixadaArquivo Pessoal
Por Charles Rodrigues
Desentendimentos, depressão, encontro marcado pela internet ou vítima de algum ato de violência? Familiares e a polícia tentam montar o quebra-cabeça para desvendar o desaparecimento do técnico em radiologia Luciano Vinicius Titoneli Pinheiro, de 28 anos. Ele foi visto, pela última vez, no sábado passado, saindo do condomínio onde mora, no bairro Parque São Bernardo, em Belfort Roxo, na Baixada Fluminense (Vídeo abaixo). Imagens de câmeras do conjunto residencial mostraram Luciano carregando duas mochilas. De acordo com testemunhas, logo depois, ele teria ingressado em um veículo, de transporte alternativo, que seguia para Central do Brasil, no centro do Rio de Janeiro.
Para a família, além da dor da ausência e da falta de notícias, recai a dúvida sobre os motivos que levaram ao sumiço. A preocupação aumentou, sobretudo, pelo fato do aparelho celular de Luciano estar desligado. “Apesar de ser introspectivo, quieto, meu filho não demonstrava estar com problemas de saúde. Também não notamos diferença em seu comportamento, nos últimos dias. Havia desentendimentos e conflitos, dentro de casa, como em qualquer família. Ele não usa drogas, nunca ficou fora, por tanto tempo, sem avisar ou deixou o celular desligado. A família está abalada”, relatou o pai, o servidor público Luis Cláudio Fernandes, de 55 anos, que tem outros dois filhos.
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Apelo- Dentro de um “turbilhão” de emoções e fatos desconexos, a família busca razões para o sumiço repentino. “Ele falava pouco e resistia, quando o assunto era participar de reuniões, seja em família ou com amigos. Gostava de tocar música em seu teclado e ficar no quarto”, disse a cunhada, a fotógrafa Gleice Maia, de 30 anos. À base de remédios calmantes, a vendedora autônoma Vanuza Tioneli, de 51anos, pouco dorme e se alimenta com dificuldades, após o desaparecimento do filho. Emocionada, ela fez um apelo: “Peço às pessoas, que tiverem informações sobre o meu filho, para fazer contato. Estamos sofrendo muito!”, disse a mãe, segurando a fotografia de Luciano.


O caso foi registrado na 54ª DP (Belfort Roxo). Após instauração do inquérito, a polícia avaliará a possibilidade de solicitar à Justiça a quebra dos sigilos telefônicos e bancários de Luciano. De janeiro a agosto de 2020, foram registrados 2.133 desaparecimentos no Estado do Rio de Janeiro, de acordo com o Instituto de Segurança Pública (ISP).
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Em tempos de pandemia, transtornos psicológicos e conflitos familiares podem ser ‘gatilhos’ para desaparecimentos espontâneos
Para especialistas, o aumento de casos de desaparecimentos espontâneos, ou voluntários, pode estar ligado a conflitos familiares e transtornos psicológicos acirrados pelo isolamento social e mudanças drásticas de rotinas.
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“São tempos difíceis. O isolamento social despertou ou intensificou transtornos psicológicos. Sintomas de depressão e ansiedade têm se tornado a queixa principal. A convivência familiar, forçada pelo isolamento social ou pelo desemprego, pode fazer emergir conflitos que estavam ‘adormecidos’ e, com isso, a convivência tornou-se dolorosa”, ressalta a psicóloga Maríangela Venas.
A psicóloga, no entanto, faz um alerta sobre a importância da prevenção aos desaparecimentos, motivados pelas saídas repentinas dos lares, reforçando a necessidade do diálogo e da busca pelo tratamento adequado de saúde mental.
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“O desejo de sumir e reaparecer em uma situação mais amena é legítimo, diante da dificuldade de lidar com a dor. O problema é que, se há um estado de confusão mental instalado, pode gerar uma ameaça real à segurança do indivíduo. É preciso que ações de prevenção em Saúde Mental sejam pautas constantes na sociedade; pois, com informação será possível identificar processos iniciais e buscar ajuda necessária”, explica Venas.