Luciano e a mãe durante reencontro no Rio de Janeiro  - Arquivo Pessoal
Luciano e a mãe durante reencontro no Rio de Janeiro Arquivo Pessoal
Por Charles Rodrigues
 Após seis dias de angústia, buscas e ampla mobilização nas redes sociais, o desaparecimento do técnico em radiologia Luciano Vinicius Titoneli Pinheiro, de 28 anos, terminou com um final feliz. Ele foi localizado, na última quarta-feira, em Goiânia, no Estado de Goiás, onde estaria perambulando por ruas e praças públicas. A localização foi confirmada, pela família, durante rastreamento do aparelho celular. Visivelmente abatido, Luciano, que, provavelmente, foi acometido por um transtorno psicológico, já retornou à casa dos pais, em Belfort Roxo, na Baixada Fluminense.
Cercado de expectativa e controvérsias, o sumiço do técnico em radiologia foi registrado, no último sábado, quando foi visto saindo do condomínio, onde reside, no bairro Parque São Bernardo, carregando duas mochilas. Sem motivação aparente, o desaparecimento de Luciano deixou a família apreensiva, pelo fato de o aparelho celular estar desligado e pela demora no retorno. Aliviada, a vendedora autônoma Vanuza Tioneli, de 51anos, disse que temeu pelo pior, mas, se apegou a fé para acreditar no retorno do filho.
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“Foram dias de muita agonia. Só quem tem um filho desaparecido sabe o que estou falando. Nos apegamos à fé. Recebemos apoio de familiares e amigos. No dia em que iríamos colar cartazes com a fotografia dele, no centro do Rio de Janeiro, recebemos a notícia da localização. Ele estava perambulando pelas ruas, em Goiânia. Recebia comida nas praças públicas. Com certeza estava desorientado, pois deixou o conforto da casa para se aventurar numa vida de riscos. Mas, Graças a Deus conseguimos encontrá-lo. Foi a volta do filho pródigo”, contou, emocionada, a mãe do técnico em radiologia, fazendo alusão a uma passagem bíblica.

Pós-pandemia pode acelerar aumento de casos de sumiços voluntários
No Estado do Rio de Janeiro foram registrados 2.133 desaparecimentos, de janeiro a agosto, em 2020, de acordo com dados do Instituto de Segurança Pública (ISP). Segundo especialistas, o sumiço do técnico em radiologia Luciano Vinicius Titoneli Pinheiro se enquadraria nos casos de desaparecimentos espontâneos ou voluntários, que são motivados, em sua maioria, por transtornos psicológicos ou conflitos familiares.
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“São tempos difíceis. O isolamento social despertou ou intensificou transtornos psicológicos. Sintomas de depressão e ansiedade têm se tornado a queixa principal. A convivência familiar, forçada pelo isolamento social ou pelo desemprego, pode fazer emergir conflitos que estavam ‘adormecidos’ e, com isso, a convivência tornou-se dolorosa. A prevenção aos desaparecimentos passa pelo tratamento de saúde mental adequado e apoio da família”, ressalta a psicóloga Maríangela Venas.

‘A dor do desaparecimento extrapola julgamentos morais’
A luta para encontrar filhos desaparecidos une famílias, em todo o Brasil, que registra, aproximadamente, 82 mil sumiços por ano, segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Contudo, são as mães quem mais personificam essa batalha em busca dos entes queridos. Símbolo dessa militância, Luciene Pimenta Torres, presidente da Instituição Mães Virtuosas, faz um apelo à necessidade da prevenção aos desaparecimentos e pela implementação de políticas públicas em apoio às famílias.
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“Reconheço que tivemos alguns avanços, mas houve uma estagnação na implementação de políticas públicas em torno dos desaparecimentos. As famílias continuam tendo dificuldades, desde o tratamento nas delegacias, passando pela ineficácia nas investigações e falhas processuais na justiça, até a indiferença das autoridades. Mesmo lidando com a dor, as famílias ainda agem por conta própria, na maioria dos casos. Precisamos de campanhas de prevenção, mas também da ação do poder público, pois pagamos nos impostos e temos esse direito. Independente de quem seja, ou das motivações, a dor do desaparecimento extrapola julgamentos morais”, ressalta Torres, que luta, há 11 anos, para encontrar a filha desaparecida.