Ruan foi localizado em Camaquã, no Rio Grande do Sul  - Arquivo Pessoal
Ruan foi localizado em Camaquã, no Rio Grande do Sul Arquivo Pessoal
Por Charles Rodrigues
 Após angústia, noites mal dormidas e intensas buscas, o metalúrgico Ronaldo da Silva Drummond, de 49 anos, enfim, recebeu a notícia que tanto esperava. Desaparecido, há 45 dias, o filho dele, o auxiliar de serviços gerais Ruan Rodrigo Barroso Drummond, de 27 anos, foi localizado, nesta terça-feira, no município Camaquã, no Rio Grande do Sul. Ele estava vivendo nas ruas, como mendigo, e foi encontrado dormindo, nos fundos de um posto de gasolina, às margens da BR-116, que liga os estados do Nordeste ao Sul do Brasil.
A mobilização de familiares e amigos na Web foi fundamental para localização de Ruan, que estava desaparecido desde o dia 20 de agosto, após sair de casa, em Padre Miguel, na Zona Oeste do Rio. A informação sobre o paradeiro chegou a uma rádio da região de Camaquã, que havia tomado conhecimento do caso através do Dia Online. “Recebemos a denúncia e seguimos ao local, junto com uma equipe de policiais. Encontramos o Ruan dormindo, na calçada de uma lanchonete, nos fundos do posto. Foi uma abordagem humanizada. Ele nos acompanhou até à delegacia, onde foi feita a ocorrência”, contou o jornalista Rodrigo Vicente, da Rádio Acústica FM.
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Aliviado, o metalúrgico Ronaldo Drummond acredita que o filho possa ter ido para o Rio Grande do Sul após um surto psicótico, já que Ruan toma remédios controlados. “Quando fica sem os medicamentos, ele surta e passa a andar a esmo pelas ruas. Graças a Deus, foi encontrado. Foram 45 dias de muita luta e angústia. Semana passada, algumas pessoas diziam que estaria morto. Mas sempre acreditei que iria encontrar o meu filho. Agradeço a essa corrente do bem que foi feita em torno do caso. Como disse, alguma hora iria clarear, como a letra da música”, disse, emocionado, o metalúrgico, fazendo alusão ao samba “Clareou”, interpretado pelo cantor Diogo Nogueira, que se tornou uma espécie de mantra, durante as buscas ao filho.

Rastreamento - De acordo com familiares, o rastreamento da movimentação financeira foi importante para encontrar o paradeiro de Ruan. Na última segunda-feira, conforme matéria divulgada pelo Dia Online, a família foi informada sobre um saque do auxílio emergencial, em nome do rapaz, em uma agência da Caixa, em Camaquã, no Rio Grande do Sul. Após o contato telefônico, uma das funcionárias confirmou o movimento financeiro, que mobilizou a imprensa e a polícia local a encontrarem o paradeiro de Ruan. Devido a inexistência de um cadastro nacional de desaparecimentos, a Delegacia de Polícia e Pronto Atendimento (DPPA), de Camaquã, registrou o encontro como fato atípico.

Família cria campanha ‘Volta, Ruan’ para resgatá-lo do Sul
A alegria do encontro de Ruan se soma a um novo desafio: trazê-lo de volta para o Rio de Janeiro. Para agilizar o retorno, a família mobilizou amigos e parentes, em uma campanha denominada “Volta, Ruan”. A ideia é conseguir angariar fundos para compra de passagens. Devido aos transtornos psicológicos, o rapaz só pode retornar com o auxílio de um responsável. “Se tudo correr bem, iremos ao Sul para resgatá-lo e trazê-lo de volta. Estou desempregado, mas a ajuda dos amigos é fundamental”, agradece o pai.

Transtornos psiquiátricos podem transformar pessoas em andarilhas, diz especialista
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Sair de casa, sem rumo ou dar notícias, é comum em casos envolvendo pessoas com quadro de transtornos psiquiátricos, segundo a assistente social Cláudia Santos. “Todos os dias, recebemos casos semelhantes nas clínicas e detectamos diagnósticos parecidos durante trabalhos de acolhimento em vias públicas. Sem os medicamentos, esses pacientes saem de casa, e, durante surtos psicóticos, costumam pegar caronas e seguir, muitas das vezes, sem rumo para lugares inóspitos, correndo inúmeros riscos", explica Santos.  
"Geralmente, são pessoas desaparecidas que, pela ausência de documentos, dificultam a identificação e o regresso aos lares. Além disso, a falta de um cadastro único e a dificuldades de cruzamentos de dados entre as instituições corroboram para o problema. Em muitos casos, essas pessoas ficam, durante longos períodos, nas ruas ou internadas em clínicas psiquiátricas. Apoio das autoridades públicas e maior investimentos nos centros de capacitações psicossociais são fundamentais para atendermos essa demanda”, ressalta a assistente social, que, há 16 anos, realiza atendimentos em clínicas psiquiátricas e acolhimento nas ruas.