Marisa está desaparecida há 4 meses  - Arquivo Pessoal
Marisa está desaparecida há 4 meses Arquivo Pessoal
Por Charles Rodrigues
 Vida simples, dedicação à família, muita fé em Deus e um sumiço misterioso. Familiares e a polícia tentam montar o quebra-cabeça para elucidar o desaparecimento da dona de casa Marisa Marques Pacheco, de 52 anos. Ela foi vista pela última vez, há 4 meses, após sair de casa, deixar a filha, de 12 anos, na escola e embarcar em uma van com destino a um centro comercial, em Campo Grande, na Zona Oeste do Rio de Janeiro. De acordo com a família, Marisa, como de costume, ao sair, deixou o aparelho celular em casa, não levou bolsa ou mala e estava apenas com a roupa do corpo: uma blusa azul florida, calça legging preta e sandálias.
Há cerca de 120 dias, a rotina do padeiro Vasco Alves Monteiro, de 45 anos, mudou completamente. Agora, ele divide o trabalho de panificação e confeitaria, em um supermercado, com as buscas à mulher, com quem convive há 16 anos. “De um dia para o outro, a vida da família foi transformada. O sumiço da Marisa é um mistério porque não havia motivos aparentes para ela sair de casa. Havia conflitos como em toda a família, mas ela não demonstrou mudança de comportamento ou, sequer, algum transtorno psicológico. Simplesmente, deixou a nossa filha na escola, entrou numa van e ninguém sabe mais o que ocorreu”, disse, emocionado, o marido, que já mobilizou toda a família em mutirão para realizar buscas.
Publicidade
A irmã de Marisa, a dona de casa Marcileide Marques Pacheco, 51, não descarta a hipótese de um problema de saúde, durante o percurso, ter motivado o sumiço. Ela tem esperança de a irmã retornar até o aniversário da filha, no dia 21 de novembro. “Tudo ainda é muito estranho. Estamos abalados, mas acreditamos que ela possa estar em algum lugar, inconsciente, ou com algum problema de saúde, já que sofre de bronquite crônica e necessita de remédios controlados. Também não descartamos, que, por conta disso, tenha sofrido algum tipo de surto. Já procuramos em abrigos, hospitais, clínicas e nada. Nossa esperança é de ela retornar até o aniversário da filha, em novembro”, lembra Marcileide.
Câmeras- No mesmo dia do desaparecimento, familiares e amigos realizaram buscas em diversas localidades na Zona Oeste. Moradora do bairro Inhoaíba, Marisa, de acordo com a família, foi vista por uma vizinha ainda dentro da van. Testemunhas também informaram ter visto uma mulher, com as mesmas características, em uma das rampas da rodoviária em Campo Grande. Responsáveis pelas investigações, policiais da Delegacia de Descoberta de Paradeiros (DDPA) não descartam nenhuma hipótese e continuam realizando diligências para encontrar o paradeiro da vítima. A família já conseguiu imagens de Marisa embarcando na van e aguarda a disponibilização de outras gravações de câmeras de comércios da região, que necessitam de autorização da Justiça.
Publicidade
De janeiro a setembro, de 2020, foram registrados 2.430 desaparecimentos no Estado do Rio de Janeiro, de acordo com dados do Instituto de Segurança Pública.
‘Ficamos sem chão’
Publicidade
Para o padeiro Vasco Alves, o desaparecimento da esposa abalou toda a família e o fez repensar suas fragilidades emocionais, pois precisa ser um amparo para a filha de 12 anos. “Ficamos sem chão, mas temos que tocar a vida. Minha filha tem todo nosso apoio, mas a falta da mãe e companheira exige que correspondamos a outras responsabilidades. Ela, aparentemente, está bem, mas chega uma hora que ficamos sem respostas e precisaremos do auxílio da família e especialistas”, revela Vasco, durante apelo para encontrar o paradeiro da esposa.


Desaparecimentos de mulheres correspondem a 29% dos registros, segundo pesquisa
Publicidade
São registrados, em média, 29% de sumiços de mulheres contra 71% do sexo masculino, conforme pesquisa do Programa de Localização e Identificação de Desaparecidos (Plid), do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro. A hegemonia de gênero, no entanto, a princípio, serve apenas como norteador de algumas ações preventivas, mas o desaparecimento é um problema social e tratado de forma abrangente, conforme ressalta a coordenadora estadual do setor de Enfretamento e Prevenção ao Desaparecimento de Pessoas, Jovita Belfort. 
“Desaparecimento é um problema social, e a dor da ausência não tem sexo, cor ou classe social. A predominância de sumiço de homens está ligada a inúmeros fatores sociais e culturais. Contudo, o problema atinge toda a sociedade de forma incomplacente. É um ser humano que deixa uma família, afetos, histórias”, acrescenta Belfort.
Publicidade
'Normalmente, vemos mulheres procurando homens'
A psicóloga Alessandra Alves Soares voltou a destacar a importância do apoio de especialistas para lidar com as ausências, independente do gênero em questão. Soares chama a atenção, no entanto, para os tabus sociais, quando são os homens as vítimas das ausências.
Publicidade
“Normalmente, vemos mulheres procurando homens. Quando o cenário se inverte, as fragilidades emocionais masculinas ficam expostas. Há um estigma negativo em relação aos sentimentos masculinos, em que muitas das vezes o sofrimento é visto como sinal de fraqueza. Com isso, há uma tendência de o homem sofrer calado para não mostrar fragilidade. Ter uma rede de apoio também precisa fazer parte do universo masculino”, explica a psicóloga.

Veja, abaixo, imagens de Marisa, no dia 16 de junho, momentos antes de embarcar em uma van: