Ajudante de cozinha Amarildo Brito está desaparecido há 1 semana - Arquivo Pessoal
Ajudante de cozinha Amarildo Brito está desaparecido há 1 semanaArquivo Pessoal
Por Charles Rodrigues
Sete anos após o desaparecimento do então desconhecido ajudante de pedreiro, Amarildo Dias de Souza, na Comunidade da Rocinha, Zona Sul do Rio, o sumiço de um homônimo ajudante de cozinha, em Búzios, na Região dos Lagos, remonta a emblemática pergunta: Onde está o Amarildo? Querido pelos colegas de trabalho e amado pela família, Amarildo Macedo Brito, de 28 anos, desapareceu, misteriosamente, no último dia 3 de novembro, após sair da casa da noiva, no bairro Maria Joaquina, localizado em um dos acessos ao balneário.
Natural de Araruama, cidade vizinha na Região dos Lagos, Amarildo foi morar com a tia, em Búzios, para trabalhar em uma famosa rede de restaurantes. No dia do desaparecimento, o ajudante de cozinha estava de folga e aproveitou para visitar a noiva, que está no sétimo mês de gravidez e com quem pretende se casar logo após o nascimento do filho. “Ele saiu da casa da noiva por volta das 22 h. Estava chovendo. Testemunhas viram o Amarildo correndo por causa do temporal. A casa em que mora com a tia fica próximo à da noiva, mas ele não retornou. O último acesso dele ao WhatssApp foi às 4h da manhã do dia seguinte. A partir daí, o aparelho foi desligado e ninguém teve mais notícias dele”, contou, a irmã de Amarildo, a dona de casa Lorrayne Macedo da Silva, de 24 anos.
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Buscas- O sumiço de Amarildo chamou a atenção da família devido à ausência no trabalho, pois não costumava faltar o serviço. De acordo com a família, o ajudante de cozinha não tinha inimigos, não vinha recebendo ameaças e estava feliz com a chegada do primeiro filho. “Era um rapaz ‘do bem’, na dele, trabalhador. A roda de amizade se resumia aos colegas de trabalho e primos”, ressalta Lorrayne, que, com apoio de amigos, afixou cartazes, com a fotografia de Amarildo, em diversos pontos da cidade, e realizou buscas em hospitais e institutos médicos legais em outras cidades da Região dos Lagos.

‘Me ajudem, por favor! Quero encontrar meu filho vivo ou morto’
Num apelo dramático (Áudio abaixo), a caseira Cineia da Conceição Macedo, de 45 anos, faz um apelo às autoridades para encontrar o filho Amarildo. “Meu filho é trabalhador, não é bandido. As autoridades não têm informações e, há uma semana, procuramos pelo Amarildo. Estou dormindo à base de remédios tranquilizantes. Já procuramos em todos os lugares possíveis. Estamos abalados. Não sei o que aconteceu. Mas, como toda mãe, quero encontrar o meu filho, vivo ou morto. Quero, pelo menos, enterrar o meu filho. Me ajudem, por favor!”, disse, emocionada, a mãe do Amarildo. 
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Investigações- O caso foi registrado na 126ª DP (Cabo Frio). Após divulgação do caso no DIA Online, uma testemunha, através de denúncia anônima, informou à família ter visto Amarildo entrar em um carro preto, com quatro homens. O fato foi comunicado à polícia e será investigado. A polícia realizou diligências na região e ouvirá testemunhas na sequência das investigações. Nenhuma possibilidade foi descartada para elucidar o desaparecimento do ajudante de cozinha. De acordo com o Instituto de Segurança Pública (ISP), foram registrados 2.430 desaparecimentos, de janeiro a setembro, de 2020, em todo o Estado do Rio de Janeiro. Armação de Búzios compõe a 4ª Região Integrada de Segurança Pública (RISP4), que compreende Niterói, São Gonçalo, Itaboraí e Região dos Lagos, e registrou 355 casos no mesmo período.

Sumiço emblemático, em 2013, chamou atenção para os desaparecimentos forçados e terminou com 12 policiais condenados

Caso emblemático, o sumiço do ajudante de pedreiro Amarildo Dias de Souza, no dia 14 de julho de 2013, na Rocinha, comunidade da Zona Sul do Rio, ganhou os holofotes da mídia e jogou luz para os casos de desaparecimentos forçados, comumente conhecidos quando ocorre abuso de autoridade e violência policial. De acordo com as investigações, Amarido foi conduzido pelos agentes, de forma arbitrária, até a Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da Rocinha, onde teria sido torturado e morto pelos policiais militares.
Em 2016, a Justiça condenou, em primeiro grau, 12 dos 25 policiais militares denunciados pelo desaparecimento e morte de Amarildo. No segundo grau, oito condenações foram mantidas, enquanto quatro militares foram absolvidos.
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O desparecimento forçado de pessoas é definido, pela Organização das Nações Unidas (ONU), “como a privação de liberdade executada por agentes do Estado ou por pessoas e grupos agindo com sua cumplicidade, seguida da recusa em reconhecer que o fato aconteceu e da negação em informar o paradeiro ou destino da pessoa. Quando praticado de modo sistemático contra um segmento específico da população (movimentos políticos, membros de uma religião ou etnia) é um crime contra a humanidade que não pode ser anistiado. Os tratados internacionais proíbem os desaparecimentos forçados em qualquer circunstância, mesmo durante guerras”.