Por tamyres.matos

Rio - No início da violenta década de 1970, 13 homens subiram ao palco munidos de ideias revolucionárias e um lema: “Só o amor constrói”. Eram os Dzi Croquettes, grupo que, apesar de ter influenciado o cenário artístico nacional e internacional, “ficou inexplicavelmente esquecido durante 30 anos”, como define Juliano Vianna, um dos organizadores do livro independente (72 págs., R$ 86) e da mostra, ambos batizados de ‘Dzi Croquettes — Te Contei?’, que celebram quatro décadas da trupe, a partir de hoje, no Teatro Glauce Rocha.

“Não se trata apenas de uma exposição de um grupo que fez sucesso nos anos 70. É sobre a história do nosso país”, defende Ciro Barcelos, um dos integrantes originais da companhia. Com o documentário ‘Dzi Croquettes’, de 2009, ele percebeu que eles continuavam provocando reações ao desafiar os costumes sociais e artísticos já estabelecidos. “Uma coisa foi desencadeando a outra”, diz o coreógrafo e bailarino. A ideia deu origem não só ao livro e à mostra, como também ao espetáculo ‘Dzi Croquettes em Bandália’, com novas danças e assuntos atuais, que faz nova temporada no Glauce Rocha a partir do dia 29.

À esquerda%2C a capa do livro%3B acima%2C foto da mostra sobre os Dzi CroquettesDivulgação

“O fator ideológico das artes no país foi pelo ralo”, critica Ciro, que logo muda de tom ao falar sobre as manifestações que tomaram o Brasil esta semana. “Na segunda, eu estava na passeata da Rio Branco, fiquei muito emocionado porque vivi isso, fui preso e exilado. Os artistas desta geração estão todos acomodados com suas vidinhas, não querem se comprometer porque têm medo de perder o emprego na Globo. Temos que ir para a rua!”, dá o recado.

Toda a trajetória da luta artística do grupo que se vestiu de mulher (mas de barba) e subiu ao palco para afrontar o sistema repressor da ditadura pode ser vista através de figurinos originais, cartazes de shows e fotos inéditas, que Antonio Guerreiro tirou das apresentações e bastidores da trupe. O livro, dos autores Bianca Clark, Juliano Vianna e Radha Barcelos, traz imagens e depoimentos dos Dzi Croquettes, em tiragem limitada de 500 exemplares. Eles serão vendidos durante a mostra, os espetáculos e por encomendas pelo e-mail dzi.livros@gmail.com.

“A ideia de fazer uma exposição já era um sonho nosso de muito tempo”, explica Ciro, que, junto a Bayard Tonelli, outro integrante da formação original do grupo, estará presente hoje, às 18h, no Glauce Rocha, autografando e recebendo os convidados. “Quero que o teatro seja uma plataforma para manifestos, que acorde o indivíduo para a sua loucura pessoal! Está tudo muito careta atualmente”, conclui o Dzi.

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