Por julia.amin

São Paulo - "O Som ao Redor" , dirigido por Kleber Mendonça Filho, foi escolhido por uma comissão do Ministério da Cultura para ser o candidato do Brasil ao Oscar 2014 . O longa tentará levar o País de volta à disputa pela estatueta de filme estrangeiro, algo que não acontece desde 1999 - naquele ano, "Central do Brasil" perdeu para o italiano "A Vida é Bela".

O filme brasileiro será pré-indicado à Academia de Artes e Ciências Cinematográficas dos Estados Unidos, que receberá sugestões de países de todo o mundo e revelará primeiro nove selecionados e depois cinco finalistas em janeiro.

Vários outros países já divulgaram seus candidatos. Entre os concorrentes mais fortes estão "Gloria", do Chile, premiado no Festival de Berlim; "Heli", do México, que levou melhor direção em Cannes; e "Wadja", da Arábia Saudita, ganhador de três troféus no Festival de Veneza e sucesso de crítica nos EUA.

"O Som ao Redor" esteve na lista dos dez melhores filmes de 2012 do jornal "The New York Times"Divulgação


Em entrevista ao iG, Mendonça Filho disse ter recebido a notícia com tranquilidade. "Foi a mesma sensação de quando recebi telefonemas dizendo que tinha ganhado um prêmio", afirmou. "É um reconhecimento e uma espécie de registro histórico. Daqui a alguns anos as pessoas vão dizer que em 2013 o indicado do Brasil ao Oscar foi 'O Som ao Redor.'"

O diretor considera que o filme teve uma carreira "muito forte" no Brasil e no exterior, e que o fato de ter entrado em cartaz nos Estados Unidos ajuda as chances de indicação ao Oscar. "Sei que há um protocolo, uma espécie de roteiro a se seguir a partir de agora. Mas estou tranquilo pois, dentro de uma ideia de cinema que não é blockbuster, 'O Som ao Redor' é um pouco conhecido por lá."

Mendonça Filho acredita que o grande ganho trazido pela indicação é a maior visibilidade para o longa. "Sobre o Oscar, é tudo metafísica. Não tenho como dizer que vamos ser indicados ou que vamos ganhar", disse. "Tudo o que aconteceu com 'O Som ao Redor' foi passo a passo, e eu fui acompanhando. Não acredito em empurrar o filme ladeira acima. A melhor coisa é deixar ele correr sozinho."

Retrato do Recife e do Brasil

"O Som ao Redor" foi lançado em janeiro e deve sair em DVD e blu-ray no mês que vem. O filme retrata a rotina de uma rua de classe média na zona sul do Recife, transformada pela chegada de seguranças particulares que oferecem seus serviços aos moradores. Neste pequeno espaço, Mendonça Filho faz um retrato de uma cidade e de um País em transformação, no qual o crescimento não reduz o medo e onde as relações de classe se parecem com as do passado.

Kleber Mendonça Filho é o diretor do "O Som ao Redor"Divulgação


O filme entrou para a lista de dez melhores filmes de 2012 do principal crítico de cinema do jornal norte-americano "The New York Times". Também em 2012, ganhou o troféu principal da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo , além de quatro prêmios no Festival de Cinema de Gramado (diretor, som e melhor filme para o público e os críticos) e dois no Festival do Rio (filme e roteiro).

Além disso, foi exibido e premiado em eventos internacionais, sendo o Festival de Roterdã o principal. Apesar do lançamento em circuito limitado de salas, conseguiu boa média de público .

Outros concorrentes

Em enquete promovida pelo portal iG sobre qual deveria ser o candidato do Brasil, o vencedor foi "Gonzaga - De Pai Para Filho" , com 3.333 votos. Em seguida vieram "Meu Pé de Laranja Lima" (1.599 votos), "Faroeste Caboclo" (1.114), "Colegas" (655), "O Som ao Redor" (324) e "Uma História de Amor e Fúria" (214).

Entre os 14 filmes inscritos também estavam "Cine Holliúdy", "Cores" , "Elena" , "O Dia que Durou 21 Anos" , "O Que se Move" , "O Tempo e o Vento", "Porto dos Mortos" e "Xico Stockinger".

Oficialmente, a indicação brasileira só supõe dois requisitos fundamentais: 1) ter sido exibido primeiro no País e 2) ter ficado pelo menos uma semana em cartaz, em sala do circuito comercial brasileiro, entre 1º de outubro de 2012 e 30 de setembro de 2013. A inscrição é feita por meio de um requerimento entregue ao Ministério da Cultura, junto a 12 cópias do filme em DVD.

A comissão julgadora deste ano foi formada por Leopoldo Nunes da Silva Filho, secretário do Audiovisual; Sylvia Bahiense Naves, também da secretaria; George Torquato Firmeza, ministro do Departamento Cultural do Itamaraty; Renata de Almeida, diretora da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo; e Vânia Catani, sócia da produtora Bananeira Filmes.

O júri participou de uma reunião em Brasília nesta sexta-feira, que foi marcada para as 10h, mas começou com atraso. A decisão foi anunciada por volta das 14h30.

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