Por daniela.lima

Rio - Marmelada de maxixe, farinha de banana, pele de rapadura, caviar de quiabo. As portas do sítio estão abertas. Fantástico, criativo e brasileiríssimo como aquele do Picapau Amarelo, o universo de Roberta Sudbrack desfila em reflexões, receitas e boa prosa de cozinha — aquela que acompanha um cafezinho coado na hora — no livro ‘Eu Sou do Camarão Ensopadinho com Chuchu’ (ed. Tapioca, 188 págs., R$ 79). Com a presença da autora e suas comidinhas, a obra será lançada nesta quinta-feira, às 19h, na Livraria da Travessa do Shopping Leblon. 

Posando em sua cozinha no Jardim Botânico, de onde saem joias como a salada caprese de burrataDivulgação


“É um livro que democratiza tudo. Receitas, pensamentos, visões. Foi pensado para quem gosta de cozinhar, ou apenas curte histórias, estuda gastronomia ou tem preguiça de tudo, mas se interessa pela cozinha”, diz Roberta.

Desprezando aparelhos e técnicas obrigatórios na alta gastronomia contemporânea, como fornos de convecção e cozimentos a vácuo, a cozinheira gaúcha e autodidata que começou vendendo cachorro-quente colocou pela primeira vez um restaurante do Rio entre os 100 melhores do mundo (na desejada lista da ‘Restaurant Magazine’). E agora expõe, nas imagens e palavras editadas em estilo de revista, seu repertório e técnicas surpreendentes, ao alcance de facas e fornos caseiros.

“O Brasil é muito rico, só precisamos estar atentos e acreditar no que é nosso. Foi assim que descobri o chuchu, o quiabo e agora a fruta-pão, que me trouxe sabores incríveis”, conta, sobre o último produto ‘radiografado’ pela cozinheira e sua equipe.

O mergulho nas páginas estimula a reflexão, aproxima o cozinheiro de seus ingredientes e exige tempo. A viagem passa por receitas reveladoras como a Ostra Vegetal — feita da ‘geleia’ natural dos tomates, temperada e gelada — e o Tartare de Abóbora, quando o senso comum é virado de cabeça para baixo em prato onde o vegetal é servido cru: microcubos temperados sutilmente em vinagre de arroz, gengibre, açúcar mascavo... Inesquecível para quem prova.

Outros sabores que levam ‘gourmands’ do mundo inteiro ao restaurante da chef, no Jardim Botânico, também aparecem fotografados e comentados. Como o cordeiro de leite assado com rapadura, o lagostim com chuchu e amendoim, e o incrível ‘consommé’ de tangerina, cogumelos crus e queijo ralado.

As invenções citadas no início do texto, típicas do olhar sui generis dedicado por Roberta aos vegetais, também poderão ser praticadas pelos leitores.

Aos poucos, tentamos juntos responder à pergunta publicada no livro e feita pela Vó Iracema, figura a quem a chef atribui tudo de melhor que lhe aconteceu na vida: “Como aquela menina que não sabia nem fritar um ovo conseguiu isso tudo?” Passo a bola à neta famosa: “ Não sabemos. E, enquanto eu estiver à procura dessa resposta, estarei viva.”

Você pode gostar