Por daniela.lima

Rio - Adolescentes com uniforme de escola pública conversam animadamente no café. Enquanto isso, uma turma espera sua vez na sala multimídia, onde muita gente assiste a filmes e seriados em DVD e Blu-Ray. Do outro lado, uma turma recosta-se em espreguiçadeiras, enquanto dois adolescentes passeiam segurando skates, a caminho de mais uma aventura pelas ruas do Rio. E muitas pessoas carregam livros e material de estudo debaixo do braço — algumas delas com fones nos ouvidos. Pode acreditar: esse clima de total encontro entre casa e rua, diversão e arte, é o de uma biblioteca pública.

Julio de Mello e Caroline Mattos na escultura-livro da exposição sobre Vinicius de MoraesJoão Laet / Agência O Dia


Reinaugurada em março após seis anos de obras, a antiga Biblioteca Pública do Estado do Rio agora é a novíssima Biblioteca Parque Estadual. E traz um mundo de diversões gratuitas para toda a família. No fim de semana, além da exposição em homenagem a Vinicius de Moraes que marcou sua reinauguração, há contação de histórias para crianças, comida e papo no Café Literário e muitos filmes na sala multimídia, ao alcance de todos. “Estou surpreso com a grandeza de tudo isso aqui”, exclama o escritor Ruy Castro, que fez uma palestra na biblioteca na quarta-feira. “Imagina, você atravessa a Central do Brasil e já está aqui. O Rio precisa de mais lugares assim. Ninguém é obrigado a ir para Copacabana ou Ipanema em busca de nada.”

Aberto em 15 de março de 1873, o espaço sempre se confundiu com a geografia central do Rio. Mas agora quer trazer a rua para dentro. “Trouxemos a Saara (centro de compras da região), pois temos uma porta que se abre para lá. Além da Central, estamos perto do Campo de Santana. E, ao contrário do que se espera de uma biblioteca, aqui é tudo aberto, tudo claro”, diz a coordenadora de acervo e leitura da superintendência de leitura e conhecimento Vera Schroeder. As bibliotecas parque, como polos de informação, cultura e lazer, já estão em Manguinhos, em Niterói, na Rocinha e devem chegar em breve ao Alemão.

O espaço ainda está esperando por novos livros. “Noventa por cento do nosso material foi comprado, não veio de doações. E muita coisa está sendo catalogada”, conta Vera. Mas a quantidade de material já assusta. A atenção das crianças e adolescentes está garantida com os muitos quadrinhos, livros infantis e infantojuvenis, que já chamaram a atenção da escritora Patricia Barboza, autora da série ‘As Mais’, lançada pela Record. “Cresci lendo Mauricio de Sousa e Monteiro Lobato, e estou impressionadíssima. Espero que as editoras também façam doações!”, diz.

A biblioteca tem também o Teatro Alcione Araújo, por enquanto usado para shows, e o Auditório Darcy Ribeiro, para o qual já estão sendo planejados debates. E o ‘Lugar do Ócio’, no qual o visitante pode recostar-se numa cadeira para ler, ouvir música, observar um monumento de Waltércio Caldas que fica em frente ou simplesmente não fazer nada. “Toda biblioteca é o lugar do ‘não pode’. Nos concentramos nas possibilidades. Você pode vir aqui pegar livros e pode trazer seus próprios livros para ler”, convida Vera. Um restaurante está sendo planejado para o terceiro andar.

Silêncio%3A João Pedro e Lohanna leemJoão Laet / Agência O Dia


Há também uma área para portadores de necessidades especiais. O comerciante Salim Kalaoun, 67, dono de lojas na Saara, é deficiente visual e costuma ir lá às tardes para conferir os audiolivros digitais. Ajudado pelos atendentes Thiago de Paula e Gisele Alves, aproveitou para conhecer toda a área. “Quem criou esse espaço está de parabéns!”, alegra-se. Na seção, há também uma impressora que produz textos em braile e máquinas que auxiliam a leitura de cadeirantes.

Moradores da Saúde, os amigos João Pedro Ramos, 17, Lohanna Martins, 16, e Regiane Fernandes, 14, já usam a biblioteca para ler e marcar encontros com amigos. “É bem perto de casa”, dizem, quase em coro, João e Lohanna — Regiane, quietinha, concentra-se na leitura de ‘Fala Sério, Mãe’, de Thalita Rebouças.

VINICIUS NO RECOMEÇO

A nova fase da biblioteca traz a exposição ‘100 Anos — Vinicius de Moraes’, em dois lugares. Logo na entrada, à esquerda, o visitante passa pela escultura-livro, que forma as iniciais VM — em meio a elas, alto-falantes que trazem a voz do próprio Vinicius lendo poemas. Após a área delimitada por elas, é possível ver capas de discos, assistir a vídeos, ouvir músicas, ver fotos raras e até levar para casa um papel trazendo uma reprodução de manuscrito (ou texto batido à máquina) do poeta. No prédio anexo, a instalação audiovisual ‘Meu Tempo É Quando’, com mais vídeos, músicas e muitas almofadas pelo chão. Quer aproveitar o domingo para relaxar vendo o melhor do Poetinha? Lá pode.

Na última quarta-feira, os amigos Julio de Mello, 25, e Caroline Mattos, 30, nem esquentaram para a greve de ônibus e saíram de Nova Iguaçu para conhecer o espaço e a exposição. “Amamos bossa nova!”, diz Carol. “Que bom que vocês estão fazendo essa matéria, porque ouvimos falar bem pouco dessa biblioteca. Biblioteca Parque no ‘Esquenta’ já!”, exclama Julio. E aí, Regina Casé?

E NO FIM DE SEMANA?

A família toda pode curtir a Biblioteca Parque. A exposição do Vinicius fica lá até 15 de junho, de terça a domingo. Amanhã, das 11h30 às 15h30, as crianças entram também no universo do Poetinha, com contação de histórias baseada no livro infantil ‘Arca de Noé’. E às 11h, no Café Literário, tem lançamento do livro infantojuvenil ‘Pilar em Machu Picchu’, da escritora e roteirista Flávia Lins e Silva. Aproveite também os livros e os filmes da sala audiovisual.

Você pode gostar