Por daniela.lima

Rio - Registro de estúdio do show estreado pela cantora Nina Becker no fim de 2013, o CD ‘Minha Dolores’ é o melhor disco solo da vocalista da carioca Orquestra Imperial. O título do álbum, lançado pela gravadora Joia Moderna por iniciativa do DJ Zé Pedro, já anuncia o caráter pessoal dessa moderna abordagem do repertório da cantora e compositora carioca Dolores Duran (1930 - 1959).

Nina Becker lança hoje e amanhã%2C com show no Sesc Copacabana%2C o CD ‘Minha Dolores’%2C no qual canta raridades do repertório de Dolores DuranDivulgação


Ícone da música brasileira nos anos 1950, Dolores é celebrada por produção autoral que revelou compositora elegante na construção de melodias e letras. Só que a discografia de Dolores é dominada por gravações de temas alheios. É nesse baú que Nina Becker pescou pérolas raras como ‘Tradição’ — samba em que Ismael Silva (1905 - 1978) versa sobre a violência dos morros em letra impressionantemente atual — e ‘Carioca 1954’ (Ismael Netto e Antonio Maria), que perfila boemio cidadão do Rio dos anos dourados.

Carioca como Dolores, Nina fez disco que retrata sons e costumes da cidade na década de 1950. Rio sonorizado por belos e até então esquecidos sambas-canção como ‘O amor acontece’ (Celso e Flávio Cavalcanti, 1954) e ‘Outono’ (Billy Blanco, 1952).

Em clima de seresta moderna, o CD une a voz de Nina ao bandolim de Luís Barcelos e ao violão de Lucas Porto. O trio é a base do disco. Mas entram músicos adicionais como Pedro Sá — cuja guitarra adorna ‘Feiúra não é nada’, samba que relativiza o poder da beleza feminina — e Marcelo Callado, cuja sutil percussão é ouvida no samba ‘Estatuto de boate’.

Nina valoriza o repertório em tom contemporâneo, leve. Sua voz parece flutuar sobre ‘Estrada do sol’ (canção de Dolores com Tom Jobim). A Dolores Duran de Nina Becker desvenda facetas desconhecidas da autora de ‘Solidão’, música do CD. Essa Dolores merece ser de todos.

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