Por daniela.lima

Rio - Em todas as listas dos grandes mestres da pintura, o espanhol Salvador Dalí (1904-1989) está lá, em lugar cativo. E se é impossível ser unânime quanto ao maior de todos os tempos, podemos dizer, sem medo de errar, que Dalí é o maior dos surrealistas e o mais marqueteiro que o mundo das artes já viu. Chegou a ser expulso do Movimento Surrealista, acusado de ser comercial e de apoiar o regime do ditador Francisco Franco. Seu egocentrismo era quase tão grande quanto a genialidade de suas criações. Certa vez, disse: “Todas as manhãs, ao levantar-me, experimento um prazer supremo: ser Salvador Dalí.” Mesmo os mais críticos quanto a sua autoexaltação e criação comercial se rendiam a Dalí, à perfeição de seus traços.

Fã do pintor%2C o ator Thiago Mendonça reproduz uma foto clássica de Salvador Dalí durante uma visita à exposição do artista José Pedro Monteiro / Agência O Dia


A partir de hoje, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), os cariocas poderão conferir 150 peças de todas as fases do artista, naquela que já é considerada a mais relevante e abrangente exposição do artista que já passou pelo país. As obras da mostra ‘Salvador Dalí’ vieram das três principais instituições que guardam o acervo do pintor: Fundação Gala-Salvador Dalí e Museu Reina Sofía, na Espanha, e Museu Salvador Dalí, em Saint Petersburg, nos Estados Unidos. São 29 pinturas, 80 desenhos e gravuras, além de documentos e fotografias.

Da forma como está no Rio, a exposição é inédita. Com pequenas variações, foi apresentada, no ano passado, no Centro Georges Pompidou, em Paris, e atraiu nada menos do que 790 mil visitantes. 

Convidado pelo Guia Show & Lazer para conferir a mostra antes da abertura, Thiago Mendonça, o Felipe de ‘Em Família’, ficou embevecido com o que viu. “Sou um profundo admirador da obra de Dalí. Ele é um desses gênios que inspiram. Você bate o olho e reconhece a loucura. Fico pensando nessa figura excêntrica e, hoje, acredito que ele faria ‘selfies’ geniais”, aposta Thiago, que, além de atuar, é desenhista nas horas vagas e levou um trabalho seu, que acabara de finalizar, para a sessão de fotos: o rosto de Dalí. “Minha mãe era professora de Educação Artística. Então, desde pequeno, estou às voltas com a arte”, diz, empolgado com a lupa que ele mesmo providenciou para imitar uma famosa foto de Dalí e, claro, para ver melhor cada detalhe das obras. 

Dalí demorou dez anos para pintar este quadro, carregado de significados. Em 1926, quando iniciado, o óleo dava a visão do que havia em frente à casa de Dalí, em Llane, cidade no norte da Espanha: o mar, a baía, a costa. Dez anos depois, ele divide a composição em duas metades e substitui a paisagem de rochas e a figura de uma banhista por uma cama e uma cadeira vazias, como símbolos da ausência.Divulgação


Thiago visitou um museu em Berlim onde estava em cartaz uma exposição com gravuras de Dalí. “Até então, era o único contato que havia tido com a obra. E, agora, ver as telas assim, de perto... Isso me emociona. O cara (Dalí) estava diante desta mesma tela, como eu. E a falta de limite do artista também me encanta. Dalí representa, para mim, junto com Picasso, uma espécie de liberdade. Ele retrata uma paisagem com a liberdade de subverter. Ele representa a liberdade subversiva”, filosofa.

PRINCIPAIS OBRAS

A curadora da mostra, a espanhola Montse Aguer, também diretora do Centro de Estudos Dalinianos da Fundação Gala-Salvador Dalí, destacou algumas importantes obras que estarão no CCBB, por terem marcado, de alguma forma, a trajetória do artista, como o momento de sua entrada no Movimento Surrealista. Entre as principais, estão ‘A Memória da Mulher-Menina’, ‘O Sentimento da Velocidade’, ‘Composição Surrealista com Figuras Invisíveis’, ‘A Máxima Velocidade da Madonna de Rafael’ e ‘O Pé de Gala’.

“Na verdade, são muitas obras importantes. De fato, o que queremos é apresentar Dalí como referência na arte contemporânea, como um artista de profundo conhecimento do passado e da tradição artística, que abriu caminho para o futuro”, explica Montse Aguer, que fará uma palestra aberta ao público no auditório do CCBB Rio, hoje, às 18h30.

Outro trabalho que promete chamar a atenção do público é a réplica da instalação ‘Mae West Room’, produzida pelo poeta e colecionador Edward James e por Dalí em 1938. Trata-se de uma sala composta por dois quadros do artista, uma lareira e um sofá (que são, respectivamente, olhos, nariz e boca), que reproduzem a obra ‘Il Volto di Mae West’ (1934-35), de Salvador Dalí. A instalação origina está no Museu de Figueras (cidade onde o artista nasceu), na Espanha.

CENTRO CULTURAL BANCO DO BRASIL. Rua Primeiro de Março 66, Centro (3808-2020). De qua a seg, 
das 9h às 21h. Grátis. Até 22de setembro.

Você pode gostar