Por daniela.lima
João Pimentel%3A Minhas CopasDivulgação

Rio - Durante boa parte da minha vida, contei o tempo e recuperei lembranças através de minhas namoradas. Ah, naquela época eu estava com a fulana etc. Como sou uma pessoa não tão fácil e também adoro animais, achei melhor passar a contar através dos meus cachorros. Ah, naquela festa lá em casa, a Kaya tinha tido uns filhotes... Mas animais morrem, fogem e eu resolvi não ter mais cachorros. Então cheguei à conclusão de que o melhor, menos problemático e mais duradouro, seria eu contar o tempo em Copas do Mundo, de quatro em quatro anos. Sábia decisão. Lembro-me onde estava em cada torneio que assisti desde 1978, ano em que o futebol em Copas começou para mim.

No “campeonato moral” da seleção de Coutinho, em 78, era aniversário de um coleguinha, mas eu já era vidrado em futebol. Teve até uma sessão de ‘A Dança dos Vampiros’, de Roman Polanski. Mas, desde o momento em que a bola rolou até o melancólico final da farsa Argentina contra o Peru, eu fiquei lá, imóvel, esperançoso, numa sala esvaziada até pelos adultos.

Em 82, já no auge dos meus 12 anos, sofri pela primeira e última vez com a bola. Nunca mais o futebol poderia ter em minha vida tamanha importância. Era a seleção dos jogadores que me ensinaram a amar o esporte. Como aqueles jogadores fantásticos poderiam perder aquela Copa? Quatro anos depois, na do México, eu havia voltado de Manaus, onde aprendi a dirigir com 14 anos, a namorar e a ser expulso de colégios. Assisti a todos os jogos com minha turma de colégio e depois a farra era no Clipper, bar do Leblon que até hoje é reduto de torcedores. Era um resquício de jogadores da Copa anterior e a agonia do maior craque que eu vi jogar: Zico.

Da Copa de 1990, a da derrota para a Argentina, o me que vem à cabeça é o pressentimento que algo havia mudado naquele jogo que aprendi a ver no Maracanã, que eu brincava de jogar desde sempre. Eu já estava na faculdade, tinha que tomar um rumo e a vida deixara de ser uma brincadeira de criança. Pelo menos foi o que me passaram Dunga e Larazoni e uma seleção pragmática, careta, feia. Deu no que deu.
A teoria da feiura futebolística se confirmaria nos Estados Unidos, salva pelo futebol finíssimo de Romário e Bebeto, principalmente. Não gostei e não gosto daquela Seleção, daquela Copa, apesar do título. Desde então, raramente a Seleção me encantou.

Em 1998 eu estava em Queimados, no bairro tricampeão. No dia da final me mandaram procurar um tal seu Zagallo, na casa 13 da rua Zagallo. Verdade, o cara existia. Quer dizer, existiu, porque ele já havia morrido. Naquele fim de mundo, eu vi Edmundo pisar na bola antes de voltar para uma redação em fim de feira.

O torneio seguinte, na Coreia do Sul e no Japão, foi um dos mais divertidos. De manhã cedo, já estávamos todos a postos no bar da esquina, com direito a café da manhã. Na hora do hino, abaixávamos o volume da TV e fazíamos nossa versão em um videokê. Os senhores da rua botavam a mão no coração, em sinal de respeito. Ninguém aguentava beber tão cedo. Mas, no segundo gol contra Alemanha, começou a farra e até um dogue alemão, rapidamente apelidado de Oliver Cão, entrou em cena. O resto eu esqueci.

Em 2006 eu estava na redação e, no intervalo do jogo contra a França, mudei de ambiente, fui para uma salinha do outro lado. Não deu, nem poderia. Aquela Seleção não me representava. Jogadores fora de forma, desestimulados. Da Copa passada eu não falo. Sequer consigo me lembrar. Apenas das grosserias de Dunga e Jorginho. Essa para mim foi a pior. Pelo péssimo exemplo dado pelos dois.

Espero daqui a quatro anos poder me lembrar desta Copa, que desde já tem o povo brasileiro como protagonista, de forma agradável. Escrevo estas linhas antes do jogo contra Camarões que, também espero, marque a volta de Fred aos gramados, a estabilidade do jovem Oscar, um jogo mais solidário de Neymar, um Hulk mais jogador, menos sex symbol. Espero.

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