
Rio - Há 15 anos, a psiquiatra Ana Beatriz Barbosa decidiu não cuidar mais de pessoas com vício em drogas. Segundo ela, tornou-se impossível lutar contra as substâncias sintéticas que começaram a chegar no Brasil. Mas o que ela não poderia imaginar é que, nesse mesmo período, teria contato com um outro tipo de vício que ela classifica como devastador.
“As pessoas me procuravam alegando depressão. Mas, quando conversávamos, eu percebia que estava diante de um consumista compulsivo. É o tipo de caso em que a pessoa não morre de overdose, mas de uma crise nervosa”, conta ela. As experiências que viveu e a pesquisa que fez para ajudar seus pacientes estão reunidas no livro ‘Mentes Consumistas: do Consumismo à Compulsão Por Compras’ (Ed. Principium, 200 págs., R$ 34,90), que acaba de ser lançado.
A obra, que trata da perigosa tendência da busca pela felicidade no consumo, tem como objetivo incentivar a compra consciente. “É impossível viver sem consumir. Por isso eu cito no livro o consumo primário, que abrange as necessidades básicas como saúde, educação, alimentação e por aí vai. Já o consumo secundário se relaciona com a compra de tudo que não precisamos. O problema é que as pessoas estão tão doentes que elas praticam bem mais o consumo secundário do que o primário”, avalia Ana Beatriz. Ela ainda apresenta o perfil das pessoas que têm tendência a desenvolver esse transtorno. “Geralmente são pacientes com personalidade impulsiva e obsessiva”.
E não faltam histórias para contar. Desde que passou a tratar esse tipo de compulsão, Ana Beatriz já recebeu pacientes que não atendiam mais o telefone para não serem cobrados e uma jovem que gastou quase 100 mil reais em um dia . “Quando o consumista procura ajuda é porque a situação está feia. Ele já mudou de telefone algumas vezes para fugir dos credores, está se escondendo dos agiotas e encalacrado com o banco. E ainda tem a questão familiar, porque quando a bomba explode, vem a família toda para o consultório. Teve uma jovem que gastou R$ 98.600 em uma loja de bolsas e sapatos numa única tarde.
Quando o gerente ligou, os pais descobriram que ela já tinha se enrolado outras duas vezes. Até porque, em grande parte dos casos, essas pessoas têm de seis a dez cartões de crédito. Às vezes mais”, diz.
Com tratamento que dura em média dois anos, a psiquiatra ajuda o paciente a se livrar dos cartões e até negocia a dívida com o banco. “Cortamos os cartões de crédito, devolvemos os talões de cheque e eu ligo para o gerente da pessoa para impedir que ele dê crédito ao paciente. Ah, também nos livramos daquela amiguinha terrível que só aparece para chamar para fazer compras.”