Rio - Arlindo Cruz sabe pisar em outros terreiros sem sair de seu quintal. No álbum de inéditas autorais ‘Herança popular’, lançado esta semana via Sony Music, o bamba carioca se conecta com temas e nomes atuais sem deixar de reverenciar a linhagem nobre do samba.
Ao mesmo tempo em que alinha termos das redes sociais na letra do samba de roda ‘Whatsappiei pra ela’, o artista saúda ícones do samba da antiga, como Candeia e Cartola, em ‘Herança popular’, o belo partido que abre o CD produzido por Arlindo Neto.
A diversidade do time de convidados do disco — Marcelo D2, Mr. Catra, Maria Rita, Hamilton de Holanda e Zeca Pagodinho (convidado do samba dolente ‘Somente sombras’, gravado em 1987 por Jair Rodrigues) — sinaliza o livre trânsito de Arlindo por todas as tribos.
Com o funkeiro Mr. Catra, Arlindo atualiza samba lançado pelo grupo Raça na década de 1990. ‘Ela sambou, eu dancei’ recorre a códigos, signos e batidas de funk sem deixar de ser (bom) samba.
Arlindo já lançou CDs de inéditas de repertório mais coeso, mas deixa boa impressão em ‘Herança popular’, em que pesem um e outro samba de tom menor, como ‘Me dê um tempo pra pensar’.
Da atual safra de sambas românticos, o maior destaque é ‘Sinceridade’. Mas ‘Paixão e prazer’ sobressai pela presença de Maria Rita, cantora que já deu voz a nove músicas de Arlindo em seus dois CDs de samba.
Paixão e prazer’ une sensualidade e romantismo em tom feliz.
O romantismo pauta sambas como o apaixonado ‘Não penso em mais nada’. Mas há também o toque político de ‘Ilicitação’. Há também a reafirmação da fé em Deus, feita em ‘O mundo em que renasci’ com a adesão do ‘pastor rapper’ Marcelo D2, que recita trecho da Bíblia. Acima de tudo, Arlindo Cruz jamais perde a fé no samba.