Por daniela.lima
João Pimentel%3A Um avião azulReprodução Internet

Rio - Comprei outro dia na feirinha da Rua General Glicério, na barraca do amigo Luizinho, uma caixa lançada pelo selo Discobertas com quatro CDs do Moreira da Silva, dos anos 60. Moreira foi um artista que por muito pouco não viveu completamente o século 20, já que nasceu em 1902 e morreu no ano 2000. Mas podemos dizer que ele viveu, na íntegra, toda a história musical brasileira do século passado, do rádio e do 78 rotações ao CD; dos circos e feiras ao Theatro Municipal; de Noel Rosa a Chico Buarque. 

Então passei os últimos dias pensando no malandro, no Kid Morengueira que entrevistei muito velhinho, no cantor primoroso do samba sincopado. Tenho profunda admiração pelo artista e gosto demais do personagem que dava tiros imaginários, que cobrava uma dívida de um “amigo urso”, que reclamava com a “Faustina” que a sogra estava no portão “decidida a morar no porão” e que, não por acaso, elegeu Jards Macalé o seu sucessor.

Moreira da Silva e Kid Morengueira se confundiam pela qualidade e bom humor de seus sambas. Sou fã das interpretações de ‘Conversa de Botequim’, de Noel, de ‘Minha Palhoça’, de J. Cascata, mas não tenho como deixar de admirar a série cinematográfica criada pelo pouco lembrado Miguel Gustavo, um gênio da composição, do jingle, que fez Morengueira enfrentar 007, Al Capone e foras da lei que “não deixavam nem defunto descansar”. 

Mas a primeira lembrança que tenho do Moreira cantando um samba, provavelmente na rádio, foi com ‘Acertei no Milhar’, não à toa de outro mestre do canto sincopado, Geraldo Pereira, em parceria com o gênio Wilson Batista. Impossível não amar o sujeito que sonha ganhar uma bolada e, ao invés de montar um império, comprar carrões, mulheres, amigos, felicidade e tudo que acham que o dinheiro pode pagar, prefere sumir do mapa para outra lua de mel com sua Etelvina.

Imaginava o tal “Marquês Morengueira de Visconde” a bordo de um avião azul percorrendo a América do Sul, depois de dar a roupa velha aos pobres e quebrar a mobília vagabunda.

O que você faria se ganhasse uma bolada? Compraria a tudo e a todos ou pegaria um avião azul de sonhos? Contrataria seguranças armados ou viveria à beira do precipício da felicidade? Dormiria abraçado no seu porquinho gigante ou se permitiria pisar na areia da praia, deitar na rede olhando pro nada, perceber que a vida, até que provem o contrário, é uma só? E mesmo que haja outra, porque não aproveitar?

Eu sou mesmo é passageiro do avião azul do Morengueira. E quer saber, para isso, como diria seu discípulo Macalé, pelas palavras de Waly Sailormoon: “Eu não preciso de muito dinheiro, graças a Deus”.

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