Rio - Em alguns momentos, Paula Fernandes fala de si na terceira pessoa — como acontece com Edson Arantes do Nascimento, o Pelé. “Sou a artista no palco, mas tenho a visão de quem olha de baixo. Também sou empresária da Paula Fernandes”, diz Paula em conversa exclusiva com O DIA, ao lançar o DVD/CD ‘Encontros Pelo Caminho’, que coleta duetos antigos com artistas como Chitãozinho & Xororó, Almir Sater, Victor & Leo, Michel Teló e Zé Ramalho. E até internacionais, como Juanes, Michael Bolton e Shania Twain.
O lançamento é o terceiro produto totalmente dirigido por sua empresa, a Jeito de Mato (os dois primeiros foram o DVD e a turnê ‘Um Ser Amor’), logo após a saída tumultuada da Talismã, escritório do cantor Leonardo. Curiosamente, um dos duetos do disco é justamente com o ex-empresário, uma regravação de ‘Índia’, de Cascatinha & Inhana.
“Meu relacionamento com Leonardo nunca esteve ruim. Saí de lá para assumir minha carreira, assim como Leonardo também saiu de um escritório para montar o dele”, conta Paula, 30 anos, que canta desde a infância, mas só viu mesmo a fama chegar recentemente. “Deus coloca milhões de possibilidades no caminho, e realmente eu optei pelo mais tortuoso. Mas a caminhada foi honesta.”
O outro nome da música brasileira geralmente associável a Paula — Roberto Carlos, que a impulsionou ao convidá-la para seu especial de fim de ano, em 2010 — não está entre os duetos, por impedimento da gravadora do Rei. “Não foi por falta de tentativa. Mas não conseguimos”, conta a cantora, que recorda uma música do repertório de Roberto, o country ‘Caminhoneiro’, ao lado de Dominguinhos.
Diferenciando a administradora da artista, Paula Fernandes pensa em si própria no palco como um personagem. “É importante que a Paula tenha a cara que esse personagem precisa ter.” Dessa vez, em meio a encontros, o clima é de retorno às origens, sem vestidos de festa e roupas exuberantes. Na abertura do DVD, de jeans e camiseta, Paula volta à capela onde foi batizada em Sete Lagoas (MG) e a lugares que conheceu na infância.
“Fazia tempo que eu não ia lá. E quem diria que meu quintal fosse ficar grande e eu fosse voltar”, brinca. “As pessoas me veem no palco e não fazem ideia de que eu gosto de dar banho em cavalos, da vida na fazenda.”
Dois outros nomes chamam a atenção em ‘Encontros pelo Caminho’: a apresentadora Hebe Camargo, morta em 2012, com quem Paula divide vozes em ‘Tocando em Frente’, de Almir Sater, e ninguém menos que Frank Sinatra, com quem faz um dueto póstumo na versão em inglês de ‘Aquarela do Brasil’, de Ary Barroso, a convite da família do cantor. O “convite” de Frank a emocionou, claro. Mas ter sido chamada por Shania Twain para soltar a voz em uma releitura de ‘You’re Still The One’ (incluída no DVD) a balançou muito mais.
“Eu mentalizei o encontro com a Shania desde a adolescência. A gente se encontrou em Las Vegas para gravar e ela já foi me chamando para cantar num show. ‘Vamos lá? Umas três músicas?’ Agora imagina se eu não conhecesse a carreira dela?”, brinca.
Já Hebe Camargo era sua amiga. “Outro dia vi uma foto e me deu uma saudade dela!”, emociona-se. “O programa da Hebe foi o primeiro no qual eu fui. Às vezes, ligava para a casa dela e me falavam que ela estava cuidando dos pássaros e ouvindo minhas músicas. Era como se eu a conhecesse há anos.”
Artistas que fazem comerciais costumam ser criticados. Paula fez um filme publicitário para um banco, ao lado de Almir Sater (que, em ‘Encontros’, divide com ela ‘Jeito de Mato’). E não tem constrangimentos em relação a isso, muito pelo contrário. “Aguardo mais convites! Fazer campanha é legal, ainda mais bem acompanhada”, diz a cantora e empresária, rindo. “É legal assinar embaixo de produtos que acho bacanas.”
A Jeito de Mato, diz Paula, pode vir a empresariar novos artistas. “Recebo muitas propostas, mas acho que o artista certo para mim ainda vai chegar. E a empresa já tem uma grande artista para cuidar. A demanda para a Paula Fernandes já é grande!”, conta a própria.
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