Por daniela.lima

Rio - Dia desses, li o que o filósofo e professor Renato Janine escreveu sobre emoticons e relações a três; e fiquei dias embatucada com vontade de provocá-lo pra esquentar o debate. Foi dessas vontades que nascem de a gente se sentir instigada por algo bom que nos desafia. Não é vontade daquelas que dá e passa: a vontade de falar disso persistiu e martelou. E quem me conhece sabe que não falar sobre algo que ronda meu pensamento é torturante, quase como bambu na unha. Ao falar sobre os emoticons (se quiser saber o que são, vai na explicação irretocável na coluna do Janine) ele diz que o coração é feito do sinal de menor com o número três. Assim, oh: <3 . 

Bia Willcox%3A O amor menor que 3Divulgação


Ele se pergunta se o amor deve ser realmente com menos de três pessoas, se referindo ao amor romântico a dois. Dois pares de olhos que se fitam mutuamente, duas bocas, um abraço de dois e uma cama para dois. Caro filósofo de quem me tornei fã, o amor com mais de dois elementos é possível, concreto e muitas vezes clandestino. Ele é real e, por isso, pouco romântico e zero idealizado. E eu me pergunto se ele existe (e eu penso, logo...) por que não se tornou ainda nem um pouquinho oficial, formalizado ou mesmo mais aceito socialmente? 

Bem, para todas as relações humanas existem sentimentos que as acompanham. Para uma relação a três ou mais, certamente haverá disputa, ciúme e um sentimento de posse qualquer. É o efeito colateral do mais-que-dois (que existe nas relações a dois pela sombra eterna do três ou mais). E, por mais que faça sentido nos permitirmos uma certa divisibilidade orgânica e fisiológica de afetos e erotismos, os sentimentos para lá de dolorosos entram em cena e fazem a balança desequilibrar feio. 

Daí, pesamos tudo e ficamos com aquele número dois (mesmo que muitos só teoricamente), adestrando e moldando nossos possíveis desejos de algo (alguém?) mais. Ou, na mesma balança, chutamos nossos parceiros em nome do sinal de maior que dois. Do três ao indeterminado. Ao infinito até. Sem ciúme, controle e idealizações românticas. Real? Não sei dizer. Não sei se quereria. O que sei é que o emoticon do coração jamais será o mesmo depois de toda essa divagação. Obrigada, professor.

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