Personalidades contam por que decidiram se fixar por lá
Por bianca.lobianco
Rio - ‘Nova York tem mais de tudo, inclusive brasileiros”, constata o fotógrafo Gustavo Malheiros. Ele sabe o que diz. Além de ter morado lá por quatro anos, passou dois outonos fotografando conterrâneos que fixaram raízes na metrópole mais famosa do mundo. Entre diferentes histórias de pessoas que trocaram as terras tupiniquins pelo agito desenfreado da cidade, nasceu o recém-lançado ‘Brazilyorkers’ (Arte Ensaio Editorial, 280 págs., R$ 150).
Livro conta sobre Nova York do ponto de vista dos brasileirosDivulgação
Há os que desembarcaram na cidade em busca de dinheiro, outros que planejavam apenas estudar por um curto período ou os que, simplesmente, se lançaram ao encontro de alguma paixão. Mesmo após terem seus planos concluídos, a maioria nunca mais quis voltar a atravessar a linha do Equador. A cantora Bebel Gilberto tornou-se mais conhecida em solo estrangeiro do que no país onde seu pai, João Gilberto, é praticamente rei. Bela Gil, que também é filha de outro astro, Gilberto Gil, se tornou uma chef requisitada pelos apreciadores da culinária saudável da cidade e só há pouco tempo decidiu que estava na hora de apresentar suas delícias ao Brasil.
Por mais que tenha voltado e construído carreira por aqui, Malheiros também nunca mais esqueceu a cidade onde “tudo acontece”, como ele mesmo diz. O jeito foi voltar para tentar descobrir por outros brasileiros o que há de tão especial por lá. “Em NY, já me pararam no meio da praça e perguntaram: ‘Posso cheirar seu sovaco?’ Em NY, o outro não está ali para reafirmar suas escolhas, é um pacto tácito: esta é uma zona para descobrir-se e testar-se”, conta a jornalista Fernanda Bak, que se fixou por lá após desembarcar para cursar um mestrado. Inclusive, é ela também quem assina os textos que dividem as páginas do livro com os ensaios fotográficos de Malheiros.
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Aliás, esse clima libertário é destacado por todos os personagens da obra, entre eles o lutador Renzo Gracie. Membro de uma família famosa por aqui, ele decidiu deixar o país há 18 anos para levar o jiu-jítsu brasileiro até a Costa Leste dos Estados Unidos. Chegando lá, descobriu não só um ambiente efervescente e propício para concretizar suas metas, mas também uma forma desprendida de levar a vida. Para comprovar isso, às vezes, sai de sua academia e simplesmente grita o mais alto possível no meio da rua. “Ninguém nem me olha. E, se me encaram, sei logo que é turista”, confidencia.
“Acho que o mais legal de lá é exatamente esse clima. Ao mesmo tempo é muito desafiador morar lá, pois é um lugar muito competitivo. Não é para os fracos”, diz Malheiros, que encontrou um bom exemplo disso na história de Zezé das Flores. Ao chegar em Nova York, na década de 70, aos 23 anos, o tijucano sonhava brilhar na Broadway. Seu destino acabou seguindo por um caminho muito diferente do glamour e holofotes da fama, mas nem por isso menos florido.
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Sem falar uma palavra em inglês, muito menos ter o mínimo conhecimento sobre flores e arranjos, ele se transformou no dono da floricultura Zezé Flowers — onde, atualmente, um único cliente chega a desembolsar cifras mensais por volta dos US$ 10 mil. “Se quiser labutar de 9 horas às 17 horas, não vai fazer dinheiro aqui, não”, destaca o empresário carioca em ‘Brazilyorkers’.
O próprio Gustavo Malheiros conta que deu muito duro quando chegou à Ilha de Manhattan, em 1989, quando foi estudar na School of Visual Arts de Nova York. “Sentia esse clima de competição muito forte quando fui estagiário do Bruce Weber (considerado um dos melhores do mundo)”, lembra ele. “Sinto falta de bater na porta do Bruce, que é o meu ídolo, e irmos almoçar enquanto ele me dava conselhos. Essas pessoas gostam quando aparece alguém de tão longe e diz que quis virar alguma coisa por cauda delas”, observa Malheiros, que completa: “Nova York é um lugar que te oferece as melhores referências de tudo.”