“É uma questão interessante, e costumo pensar assim também, só que no sentido contrário: amo a música brasileira, mas não faço ideia sobre o que estão cantando caras como Tom Jobim ou Caetano Veloso”, lamenta Peter Doggett, escritor inglês especializado em música pop, autor de ‘David Bowie e os Anos 70 — O Homem Que Vendeu o Mundo’ (Nossa Cultura, 570 págs., R$ 59,90). “Bowie foi um letrista brilhante, e se você não sabe do que ele está falando, certamente está perdendo muito do prazer sobre sua música, embora seja possível sentir que se trata de um grande artista.”
Lançado agora no Brasil, seu livro dá uma ajudinha aos que não sacam a língua inglesa ao fazer uma análise música a música, disco a disco, da trajetória do ‘Camaleão do Rock’ (como Bowie era chamado) nos anos 70.
Os mais familiarizados com sua obra, podem se aprofundar no exame detalhado de seu processo criativo naquele período que o autor traz na publicação. Peter Doggett detalha a mutação do cantor, desde sua figura andrógina do início da década de 70, que abusava de psicodelia e maquiagem para compor seus personagens, até o sujeito de cara lavada mais depressivo do início dos anos 80.
O livro começa com o primeiro grande sucesso de Bowie, ‘Space Oddity’ (1969), e termina em 1980, com o lançamento de ‘Scary Monsters’, e explica como suas roupas e atitudes tiveram impacto tanto na música quanto no comportamento da época.
“Definitivamente”, concorda Doggett. “É só olhar uma artista como Lady Ga Ga, que parece estar usando as mesmas ideias de Bowie ao se apresentar em shows e em seus vídeos. Toda nova geração de músicos, especialmente na Inglaterra, parece ter buscado inspiração em seu trabalho. Kurt Cobain, do Nirvana, era um grande fã de Bowie, e dá para encontrar suas influências até no hip hop.”