Por daniela.lima

Rio - No próximo domingo, a AMC inicia a transmissão da última temporada de uma das mais bem-sucedidas, pelo menos em termos de dramaturgia, séries de televisão dos últimos tempos: ‘Mad Men’. Desde 2007, ‘Mad Men’ conquista espectadores mundo afora acrescentando glamour às clássicas histórias dos publicitários que nos anos 50 e 60 transformaram a Madison Avenue numa gangorra de ambição, vaidade e muita criatividade. Por seu particular ‘way of life’, esses heróis do efêmero fizeram da Madison a Mad Men Avenue, ou seja, Avenida dos homens loucos.

Don Draper é o protagonista sedutor%2C alcoólatra e mulherengoReprodução


Criador da série, Matthew Weiner realizou uma arrojada imersão dramática não apenas para compor casos e personagens, mas também para que a ambiência do seriado permitisse ao espectador farejar o espírito do tempo e das transformações das décadas em que a série se passa. Don Draper (Jon Hamm) é o protagonista. Personagem ambíguo, sedutor, tabagista, alcoólatra e mulherengo, ele ao mesmo tempo é um chefe de departamento de criação absolutamente brilhante.


Antenado aos fatos, não corre de um show do Rolling Stones, de sessões contínuas ao lado do filho de ‘O Planeta dos Macacos’ e da leitura do então obrigatório ‘A Revolta de Atlas’, romance fetiche dos liberais escrito por Ayn Rand. É um tipo que pode ser visto tanto tomando dry martini no Waldorf Astoria quanto fumando um baseado num ateliê do Village. Sem jamais perder a aura de galã.

Algumas de suas apresentações a clientes são antológicas, como a em que consegue dar uma dimensão lúdica a um inovador carrossel de slides. Se Draper é o sol de ‘Mad Men’, os astros que giram ao redor de sua órbita não ficam atrás em densidade e cumplicidade. Roger Sterling (John Slattery), seu amigo, sócio e descobridor, oculta suas frustrações sob o manto do cinismo, seja no dia a dia profissional ou familiar. O episódio em que visita a filha numa comunidade hippie é um dos melhores da série, quando as contradições dos integrados do status quo chocam-se com o desbunde da contracultura.

Mas a galeria inclui outros tipos, como o almofadinha arrivista Pete Campbell (Vincent Kartheiser), a talentosa porém insegura Peggy (Elisabeth Moss), e a astuta secretária Joan (Christina Hendricks), uma escultura da sensualidade felliniana. Há ainda as duas mulheres de Draper, Betty (January Jones) e Megan (Jessica Paré), que, ao contrário dele, crescem após os relacionamentos. Além, é claro, de sua filha Sally (Kiernan Shipkan), a ‘girlhood’ do filme, que amadurece no decorrer do seriado e terá papel decisivo para compreender intimamente o misterioso drama que envolve o pai.

Mas, para além da trama, ‘Mad Men’ seduz mesmo pela visão minuciosa da América. Sem o menor didatismo, os fatos históricos entram pelas frestas do roteiro e vão mostrando um mundo em transformação. Em ‘Mad Men’ pode-se reconhecer o despertar do feminismo, a efervescência dos beatniks, a raiz dos conflitos raciais, a banana dos hippies para os caretas e até o crepúsculo do macho. Pensando bem, já não o vejo como um seriado, mas como um dos grandes, em todos os sentidos, longas dos últimos tempos. Que o final confirme aquilo de melhor que esta obra-prima já ofereceu.

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