Por daniela.lima
Alcione cantava em francês no início da carreiraFernando Souza / Agência O Dia

Rio - A banda de Alcione já está dentro do estúdio, no último ensaio para o show ‘Inusitado’, com repertório exclusivamente de canções francesas, que ela apresenta hoje e amanhã na Cidade das Artes. Integrantes da produção da cantora chegam um pouco depois, e Alcione só chegaria mais tarde, para arrematar os arranjos, mas... a porta do estúdio emperrou: ninguém mais entra, ninguém mais sai. Primeiro, tentaram com a chave. 

“A porta abre fechando ou fecha abrindo?”, pergunta alguém, em meio à tensão instalada. Depois, tentam chave de fenda e outros já cogitam partir para o martelo. “A Alcione vai ficar uma fera! Tem que arrombar essa porta!”, ouve-se de outra pessoa. Nada feito, até que decidem ligar para um chaveiro e a trupe vai para um quiosque ao lado aguardar.

Apesar dos temores, a Marrom chega ainda com a porta lacrada mas, contrariando as expectativas, nem se abala: “Isso, sim, é inusitado!”, brinca ela. “Foram só seis ensaios, mas o suficiente. Claro que tivemos que criar os arranjos novos, mas já conhecia bem esse repertório.”

O namoro de Alcione com a música francesa é antigo. Fluente no idioma, ela morou alguns anos na Europa e, no início da carreira, interpretava na noite carioca canções de Charles Aznavour, Michel Legrand e Yves Montand. “Esse show exclusivo vai ser gravado para lançamento em CD e DVD em 2016”, explica. “Depois do ‘Inusitado’, retomo a turnê do meu último disco, ‘Eterna Alegria’, e vou puxar para o roteiro algumas dessas músicas francesas, como ‘Je T’aime’ e ‘La Mer’, que ficaram muito boas.” 

‘Inusitado’ é uma série de shows criada pelo legendário produtor musical André Midani. “Os artistas têm carta branca para pensar e executar quaisquer ideias que venham à cabeça, com a condição de que elas estejam fora dos padrões normais de suas trajetórias”, detalha Midani. “Conheci Alcione em 1969, cantando na noite do Rio. Era uma moça muito bonita e chamava atenção por cantar em francês e tocar pistão. Sua pronúncia era perfeita. Um tempo depois, por uma opção de mercado, ela se enveredou pelo universo do samba, assumiu o português e ganhou as rádios de todo o país.”

Nada do chaveiro chegar, e Alcione segue aguardando, pacientemente. “Não acho que o artista tenha necessariamente que estar se reinventando a toda hora. Eu gosto de focar na minha carreira. Desafio é para quem gosta, eu não sou dessas. Mas, se me fazem um, eu topo, não corro não!”, decreta a Marrom, que diz ter adorado o convite de Midani.
O chaveiro chega. “Eba! Vamos ensaiar!”, despede-se.

Você pode gostar