Por clarissa.sardenberg

Rio - Hoje tenho uma declaração um tanto radical, quase épica a fazer: tô fora de gente legal demais, bem-humorada 24 horas, compreensiva demais, sorridente demais. Não fiquem com raiva de mim, me deixem ao menos explicar.

Essas pessoas não existem. Se existem, são seres humanos de patentes tão elevadas que, se forem superiores assim de verdade, nem vão querer saber de mim também. Se existem, são ‘fake’.

Entre nós aqui, NINGUÉM é fofo e de bem com a vida o tempo inteiro. Ninguém gosta de tudo e todos sem quaisquer objeções. Ninguém concorda com tudo o tempo todo. Pessoas com isenção total de quaisquer querelas, que não opinam, não tomam partido, não brigam e não desagradam, ou não existem ou representam. Nada contra o teatro e seus personagens, mas prefiro a crueza da realidade de dias nublados, chuvosos, de maus humores, crises passageiras e transparência às vezes dolorosa.

Se não é na minha frente, vai ser sem que eu possa ver. Se não discorda de mim nunca, vai discordar nas minhas costas. Não tem jeito. A vida é chata muitas vezes. Pessoas em algum momento ao menos serão chatas, tenho certeza. Certas atitudes são chatíssimas. Como se manter indiferente à chatice que nos rodeia? Quero gente que extravasa, bufa, diz algumas verdades, faz cara feia quando precisa e dá opinião sincera quando solicitada.

Namorados que concordam com tudo, mulheres que não têm ciúme, amigas que acham tudo o que você faz lindo, gente que tem sempre palavras positivas e belas e jamais, sob nenhuma hipótese, emite um dado de realidade às suas questões e, sobretudo, gente que tá sempre rindo e concordando com tudo — desconfiem. Você pode não estar diante da verdade do que se sente. Pra muitos, isso é melhor — ter esse excesso de sol de mentira vale mais do que uma chuva ou outra de verdade.

Por isso comecei a escrever em primeira pessoa. Eu prefiro a variedade do sol ardente e das trovejadas. Prefiro quem não é sempre bonzinho, mas quando é bom, tá sendo pra valer e não pra Inglês (no caso eu) ver. Tô dentro de gente de carne e osso, que agrada e desagrada, concorda e discorda e me faz confiar na humanidade e acreditar que é possível viver relações e afetos de verdade.

Você pode gostar