Por daniela.lima

Rio - Em casa. É dessa forma que o primeiro bailarino do Royal Ballet, de Londres, Thiago Soares, de 34 anos, está se sentido nos ensaios para as apresentações no Theatro Municipal, hoje e amanhã, às 20h, que comemoram os 15 anos de carreira internacional no palco que o projetou para o mundo. 

Thiago Soares apresenta quatro coreografias no Municipal%3B abaixo%2C ele e a ex-mulher%2C que também vai dançarDivulgação


Nascido em São Gonçalo e criado no bairro de Vila Isabel, o bailarino teve o primeiro contato com a dança aos 12 anos, quando entrou para um grupo de street dance. No ano seguinte, ingressou no Centro de Dança do Rio, para fazer dança de rua e jazz. “Fui para a dança clássica por acaso. Como o balé era pré-requisito para poder continuar a dançar outras coisas, tive que fazer”, diz Thiago.

Ele conta que, para comemorar essa data tão especial, não poderia ter escolhido outro lugar senão o Theatro Municipal, onde iniciou a carreira. “Foi lá que consegui sair para o mundo. Sempre que subo naquele palco, me pego dividido entre memórias que vivi ali’’, relembra Thiago, que interpretou naquele palco os papéis principais de espetáculos como ‘O Quebra-Nozes’, ‘Dom Quixote’, e ‘Romeu e Julieta’. 

Se hoje os homens já são aceitos no balé clássico, ele conta que, no início da carreira de dançarino, nem sempre foi assim: “Na minha época de colégio, estudava em uma escola pública em uma turma com 40 alunos. Só eu dançava. É claro que existia a ‘zoação’, e isso era aceito. Como comecei a estudar balé muito tarde, não tinha tempo para me preocupar com o preconceito’’, afirma.

Apesar das brincadeiras dos colegas, o jovem logo mostrou que estava mesmo interessado em seguir carreira na dança. Em 2001, após ganhar uma competição com mais de 270 concorrentes, conquistou a Medalha de Ouro no Concurso Internacional de Balé do Bolshoi, o que lhe rendeu um estágio no Balé Kirov, na Rússia. Poucos meses depois da mudança, aceitou o convite para integrar o corpo de baile do The Royal Ballet, de Londres. Mas foi somente em 2006 que ele se tornou primeiro- bailarino, cargo mais alto da companhia.

Para comemorar o sucesso na carreira, o dançarino preparou uma turnê que, além do Rio, vai passar por São Paulo e Recife. O espetáculo conta com quatro coreografias, sendo duas delas inéditas no país: ‘La Bala’, do português Arthur Pitta, criada especialmente para Thiago, e ‘Caresse Du Temps’, estreia do coreógrafo italiano Alessio Carbone. O terceiro ato de ‘O Lago dos Cisnes’ é mais uma coreografia, que ele encenará com a ex-mulher e primeira-bailarina do Royal Ballet, Marianela Nuñes. “Eu jamais poderia deixar de comemorar essa data com ela. A nossa relação transcende qualquer tipo de relacionamento, é uma coisa que não dá para explicar’’, derrete-se.

‘Paixão’, com a coreógrafa Deborah Colker, é a quarta coreografia que compõe o espetáculo. “A Deborah não está mais dançando, e eu tive que pedir para ela retornar aos palcos. Estamos em momentos muito diferentes e, se não nos encontrássemos agora, isso não ia acontecer nunca mais’’, diz.

Ao fazer um balanço dos 15 anos de carreira, Thiago diz que gostaria de continuar a ser dirigido pelo Royal Ballet. “Quero continuar a dançar no Royal e fazer coreografias novas. Gosto de ser parte de um corpo de baile’’, afirma. E, ao ser questionado sobre erros, ele é enfático: “O que é errar ou acertar na arte? Na dança, tudo é válido. Não me arrependo de nada’’, finaliza.

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