Rio - A Itália é país importante na música e na vida de Chico Buarque. A Itália acolheu o cantor e compositor carioca em 1969 no seu autoexílio. Lá, o artista chegou a gravar álbum com versões em italiano de seus sucessos iniciais.
O que dá sentido a ‘Caro Chico’, álbum lançado no Brasil pela cantora italiana Susanna Stivali, nome em ascensão na cena jazzística de seu país. Lançado pela gravadora Biscoito Fino, ‘Caro Chico’ traduz a obra de Buarque para o idioma do jazz à italiana. Stivali jamais faz ‘cover’ das 12 músicas que selecionou para o disco produzido pela própria artista.

Chico não somente avaliza o disco como participa da versão em italiano do samba ‘Morena dos olhos d’água’, de 1966. A faixa abre o CD. Na sequência, ‘Valsinha’ (Chico e Vinicius de Moraes, 1971) — vertida para o italiano por Sergio Bardotti - explicita o tom jazzístico do álbum nas passagens instrumentais em que sobressai o toque do piano de Rita Marcotutti.
As versões em italiano do ‘Samba do grande amor’ (de 1984) e de ‘Tem mais samba’ (1964) caem no suingue do samba-jazz. Já o adorno de ‘Beatriz’ (Chico e Edu Lobo, 1983) é o toque celestial da harpa de Cristina Braga.
De todos os convidados do CD, o mais inusitado é o cantor e compositor carioca Cícero, presente na salsa ‘Tanta saudade’ (Chico e Djavan, 1983). A gravação de Stivali preserva o tempero cubano da salsa. Por sua vez, Francis Hime, convidado de ‘A noiva da cidade’, cita o tema infantil ‘Boi da cara preta’ ao fim dessa sua parceria com Chico, composta em 1975.
O disco é excelente. Entre a desconstrução dissonante de ‘Construção’ (1971) e a preservação do sotaque afrancesado dos versos em italiano de ‘Joana francesa’ (1973), Stivali peca somente ao diluir a intensidade de ‘O que será’, música à flor da pele de 1976. Chico soa bem em italiano.