Por tabata.uchoa

Rio - No ano em que completa 80 anos, Woody Allen afia seu interesse pela filosofia e assumida queda pelo existencialismo trazendo ao público ‘O Homem Irracional’, seu filme mais pretensioso, inspirado em reconhecidos tratados de filosofia e com citações explícitas às obras de Kant, Kierkegaard, Heidegger e obviamente ao casal Sartre e Simone de Beauvoir.

Abe Lucas (Joaquin Phoenix), um professor de filosofia solitário, alcoólatra e com fama de garanhão, tenta sufocar a depressão lecionando numa universidade do interior dos Estados Unidos. Entre uma e outra bebericada de single malt, desperta a curiosidade dos alunos, e sobretudo das alunas, falando de imperativo categórico e libertação feminista. No ir e vir de suas citações, encanta a ninfeta Jill (Emma Stone), que encarna uma visão de ingenuidade feminina que em nada agradaria madame Beauvoir.

A primeira parte de ‘O Homem Irracional’ arrasta-se de forma verbal%2C como uma tese que procura substituir a falta de consistência pelo assombro de citaçõesDivulgação

A primeira parte de ‘O Homem Irracional’ arrasta-se assim de forma excessivamente verbal, como uma tese que procura substituir a falta de consistência pelo assombro de citações e de uma visão absolutamente superficial do que seja o campus universitário e sobretudo seus alunos, idiotas demais para sugerirem o interesse por filosofia.

O filme, no entanto, melhora quando se livra da verborragia e da precária visão contextual para seguir a trilha do “thriller”. É a antítese da primeira parte, quando a ação une Abe e Jill em torno da ideia do crime perfeito. Woody Allen cresce na ação, emprestando o humor refinado e inteligente da sua escrita incomparável aos desafios éticos e morais de Abe em sua luta para dominar o indominável acaso.

A síntese de ‘O Homem Irracional’ sublima suas deficiências. O filme deságua num jogo de gata e rato que, aí sim, conquista o interesse do público, brindado com as inesperáveis conclusões do diretor de ‘Crimes e Pecados’ e ‘Match Point’. Com referências a clássicos de Hitchcock, como ‘Disque M para Matar’, e ‘Pacto Sinistro’, ‘O Homem Irracional’ curiosamente consegue incitar mais a nossa reflexão ao manusear as referências cinematográficas do que as citações filosóficas. Passa na média.

AÇÃO!
* Segunda-feira, às 19h, acontece a pré-estreia de ‘Ato, Atalho e Vento’, na Cinemateca do MAM. Dirigido por Marcelo Masagão, o filme segue a linha do anterior ‘Nós que Aqui Estamos por Vós Esperamos’, inventiva compilação de imagens históricas. Em seu novo trabalho, Masagão reúne sequências de 143 filmes editadas de forma a sugerir novos sentidos. São “fragmentos de um discurso cinéfilo”, como observou o crítico Carlos Alberto Mattos. A exibição será seguida de um debate com o crítico José Carlos Avellar, a psicanalista Tânia Rivera e o filósofo Francisco Alcover. O endereço da Cinemateca do MAM é Av. Infante Dom Henrique, 85.

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