Por tabata.uchoa
Atravessamos as praias do Leblon e de Copacabana sob aplausosAgência O Dia

Rio - Não foi a primeira vez que nos encontramos. Talvez eles não se lembrassem de mim, mas eu não tinha como não reconhecer meus colegas de ofício. O Homem de Ferro estava lá com seu estilo metalizado. The Flash passou tão rápido que nem deu para cumprimentar. O Homem-Aranha ainda tentava se desvencilhar da teia. Enquanto isso, o Lanterna Verde posava de galã para as fotos.

Assim começou a Meia Maratona Internacional do Rio de Janeiro. O quarteto, que se reúne o ano inteiro para correr as provas de rua, já faz parte da paisagem que cerca a Meia, assim como as centenas de equipes amadoras do Brasil e de outras paragens, que esperam ansiosamente por este dia.

A deste ano, que aconteceu há dez dias, tinha um sabor especial para a minha modesta equipe, a Lequipe, representada heroicamente pela nossa personal, Lelê, que estava há duas semanas avariada por conta de uma distensão muscular, pela Helô, nossa melhor corredora, que também se recuperava de um probleminha de saúde, e por mim, certamente o mais relapso e preguiçoso dos 25 mil concorrentes da Meia.

Concorrentes não chega a ser a melhor expressão, porque, na verdade, poucos concorrem e muitos correm. E andam, e se arrastam, fazem piadas e param para tirar fotos e para ver de vários ângulos como o Rio de Janeiro é um cenário deslumbrante para o esporte.

Na largada, o clima é de uma enorme confraternização para a grande maioria dos atletas que se aventuram a percorrer os 21,1 km que separam a largada em São Conrado da linha de chegada no Aterro do Flamengo. O horário das 9h, por conta da exigência de uma emissora de televisão, é desumano. Talvez, por isso, um corredor exibisse uma faixa “A Rede (Tal) destrói os cérebros das pessoas”.

Tem razão, não apenas destrói como derrete a partir do quilômetro dez, já em Copacabana, quando o sol e o calor atípicos para um dia de inverno carioca se fazem presentes. Os primeiros cinco quilômetros já são puxados. É a subida e a descida da Niemeyer, até o Leblon. Ali, muita gente já começa a andar. Passamos por alguns corredores, entre eles um Tiririca, de calça, peruca e sapato. É claro que ele iria parar na metade da prova.

Atravessamos as praias do Leblon e de Copacabana sob aplausos, frases de incentivo que realmente dão uma força suplementar. Foi necessário mesmo, porque os pelotões da frente beberam todo o energético oferecido para os corredores da prova, deixando apenas saquinho plásticos espalhados pelo chão. “Ah se eu pego um desses quenianos...”, pensei. Não deu, fica para a próxima.

Na metade da corrida, começamos a caminhar para avaliar perdas e danos. Compramos um energético num quiosque e decidimos continuar correndo e andando quando necessário. Fomos assim até o Aterro. Lá, sumiram as pessoas, o incentivo, o calor aumentou e ainda faltavam seis quilômetros. Fomos até o limite. Helô e Lelê pararam por volta do 17, exaustas, e eu, que já não respondia por mim, resolvi ir até o fim.

Faltando poucos metros, já sem a menor vergonha de estar me arrastando, quem eu vejo se aproximando da chegada? Ele, o Tiririca. “Ah, já é demais”, pensei. Corri que nem um maluco, passei por ele e ainda soltei um “perdeu, palhaço”. Como ouvi uma moça dizendo na chegada, estropiada que nem eu, “essa tal de Meia Maratona é que nem filho: você esquece o trabalho que dá, jura que nunca mais vai fazer, mas daqui a pouco esquece”.

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