Por felipe.martins

Rio - Na vida como na arte. ‘Ou Tudo Ou Nada’, musical inspirado no filme britânico de mesmo nome (‘The Full Monty’, no original, lançado em 1997 com direção de Peter Cattaneo), põe seis atores fazendo strip- tease no palco para pagar as contas. E as situações vividas pelos personagens da peça — em cartaz de quinta a domingo (até 20 de dezembro) no Theatro NET Rio, em Copacabana — tem muito a ver com o dia a dia dos atores.

“Para você ver, todos os atores que estão tirando a roupa no palco estavam sem emprego”, brinca o diretor Tadeu Aguiar (o roteiro, inspirado no texto de Terrence McNally e na música original de David Yazbek, é de Artur Xexéo). “Vivemos um momento complicado do país. As empresas não patrocinam mais nada. Tínhamos só R$ 500 mil para montar a peça e todo mundo botou a mão na massa, trabalhando em cooperativa. Tem homem nu na peça sim, mas o principal é mostrar que com esperança e trabalho, dá para fazer.”

"A gente vê a bunda um do outro o tempo todo. Não aguentamos mais"%2C diz o ator Mouhamed HarfouchDivulgação

Na peça, Jerry (Mouhamed Harfouch) está devendo a pensão do filho, e tem a ideia de convidar os amigos Dave (Claudio Mendes), Malcolm (André Dias), Ethan (Victor Maia), Harold (Carlos Arruza) e Sérgio Menezes (Jegue) para montar um show de strip-tease, ao observar o sucesso que esse tipo de espetáculo faz com a mulherada. Todos os seis estão desempregados e com problemas pessoais. Harold não contou do desemprego para a mulher viciada em compras, Vicki (Patrícia França), e segue se endividando. O gordinho Dave não consegue mais transar com a mulher, Geórgia (Kacau Gomes).

Os diferenciais dos seis rapazes: além de prometerem tirar toda a roupa, uns são bem mais gordinhos ou magrinhos do que se esperaria de um stripper. E precisam encarar os próprios grilos com as suas aparências para fazer o show.

“A gente fica totalmente nu na peça, mas não é de forma grosseira e é bem rápido”, garante Mouhamed. A nudez total soma poucos segundos no fim do espetáculo e, como na peça, os atores precisaram lidar com a própria insegurança. “Até falei com minha mulher sobre meus medos e ela respondeu: ‘Deixa de ser bobo!’. Eu também canto na peça, o que não deixa de ser como se eu me desnudasse. Nunca fiz isso antes”. O ator lembra de ter sido bastante marcado pelo filme (que, assim como a montagem carioca, foi feito com baixíssimo orçamento), mas nem sabia que o texto havia virado um bem-sucedido musical da Broadway. “E que bom que ele chegou ao teatro. É um texto muito humano e não há nada mais moderno do que falarmos sobre a vulnerabilidade masculina”.

Se a peça é surpreendentemente liberada para crianças a partir dos 10 anos, as gozações no camarim são terríveis. “É proibido para menores e maiores”, brinca Mouhamed, rindo. “A gente vê a bunda um do outro o tempo todo. Tem hora que eu chegou e falo: ‘Não aguento mais ver isso!’ A gente apanhou muito num curto espaço de tempo, para conseguir isso. No começo, um telefonava para o outro e falava: ‘Cara,não sei se vou ter coragem!’”.

Lógico: não são só os glúteos que ficam à mostra para os amigos, o que gera mais piadas. “O (personagem) Ethan tem o maior membro de todos e a gente brincava com o Victor Maia (ator), que quando ele tirasse a calça todo mundo ia conferir. Todos os personagens estão saindo da zona de conforto e o strip vai fazer algo que ninguém fez, que é devolver a autoestima deles”, diz.

Tadeu Aguiar alegra-se com o fato de o musical falar do homem moderno. “Soube de ‘Ou Tudo Ou Nada’ quando fui a Nova York pagar os direitos de uma peça e pedi sugestões de musicais. Vi muitos, mas nada que eu pensasse: ‘Pô, isso vai mudar a vida de alguém’. Quando vi esse, lembrei do filme, adorei e ainda paguei barato. E também consegui fazer com que retornasse dinheiro da estreia”, conta, dizendo que o país encaretou bastante com relação a um assunto (gente nua no palco) que era para ser natural. “E a peça é bem mais que isso. Ela fala de se desnudar de preconceitos e medos.”


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