Por luis.araujo

Rio - O jardim da vida de Djavan jamais ressecou ou morreu, como o cantor e compositor poetizou em versos do samba de 1976 ‘Flor de lis’, primeiro grande sucesso de obra autoral que já perdeu o apelo popular, mas nunca a assinatura pessoal e intransferível do artista. Novas e refinadas flores brotam nesse jardim autoral em ‘Vidas pra contar’, 23º álbum do cantor para o mercado brasileiro.

Disponível desde sexta-feira para ser ouvido nas plataformas digitais, o disco reitera em 12 músicas inéditas tanto a sofisticação original do cancioneiro de Djavan quanto a perda do elo com o grande público. O artista até roça o pop na batida funkeada de ‘Só pra ser o sol’, música romântica que se impõe como a mais acessível do disco. Mas o CD ‘Vidas pra contar’ jamais acena para as paradas.

Djavan lança novo CD 'Vidas pra contar'Divulgação

Ode à alegria nordestina

O toque violeiro da abertura do disco evoca a origem do artista alagoano. No xote ‘Vida nordestina’, Djavan exalta a resistente força do povo dos sertões de uma região castigada pela seca, mas inundada pela fé e pela alegria de sua gente em dias de festa. Obra-prima, a balada ‘Encontrar-te’ tem tom ameno que contrasta com a alta temperatura de versos que falam de amor e ‘desejo à flor da pele’. Outro destaque é ‘O tal do amor’, valsa que soa com frescor, reafirmando a habilidade de Djavan para transitar por ritmos variados sem perder sua forte marca autoral.

‘Primazia’ é outra canção de amor, mas menos sedutora na forma, assim como o ‘single’ previamente lançado na internet, ‘Não é um bolero’, tema que não é mesmo um bolero clássico, mas dialoga de forma musical e metalinguística com o gênero. De ritmo arisco, ‘Aridez’, bate na tecla romântica que pauta o disco. Na letra, a mulher amada é ‘água da fonte’ que mata a sede do compositor apaixonado.

MÚSICA SOBRE A MÃE
Seguro da modernidade atemporal de sua obra, Djavan formatou ‘Vidas pra contar’ com timbres e músicos recorrentes em sua discografia. Músicos como Paulo Calasans (piano e teclados), Marcelo Mariano (baixo), Carlos Bala (bateria), João Castilho (guitarras e violões), Jessé Sadoc (sopros) e Marcelo Martins (sopros) dominam o idioma ‘djavanês’. A música do cantor fala inclusive a língua livre do jazz nas faixas ‘Enguiçado’ (de suingue ‘vintage’) e ‘Se não vira jazz’.

Sim, Djavan já lançou músicas e discos mais arrebatadores. O samba ‘Ânsia de viver’, por exemplo, soa aquém de outras incursões do artista no gênero. Gravitando em torno de seu umbigo musical, o artista puxa o cordão umbilical em ‘Dona do horizonte’, tema sobre sua mãe. A vida de Djavan rende cantos e contos.

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