Rio - Em uma seleção com inscrição recorde, apenas um terço eram mulheres. O que não impediu que duas autoras conquistassem o Prêmio Sesc de Literatura 2015. Uma delas é Marta Barcellos, que, por coincidência, escolheu justamente descrever o universo feminino em seus 24 textos, que compõem ‘Antes Que Seque’ (Ed. Record; 192 págs; R$ 32) — escolhido como o melhor na categoria contos e que será lançado amanhã, na Academia Brasileira de Letras.
“Na literatura, na maioria das vezes, as narrativas sobre o universo feminino estão enviesados sob o olhar masculino”, acredita Marta, que, por isso, sente nessa vitória um gosto ainda melhor. “É bacana pensar que era apenas um terço de mulheres entre 1.966 candidatos e ganhamos”, completa ela, referindo-se também a Sheyla Smanioto, autora de ‘Desesterro’, que levou o título de melhor romance.
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“Pesquisei sobre infertilidade e percebi que isso quase não é abordado na literatura pela ótica feminina”, conta Marta, que, a partir de conversas com pessoas próximas, teve a certeza de que abordaria o tema em seus contos. “Estava cercada de amigas que não conseguiam engravidar”, lembra-se ela, que logo depois de escrever os primeiros textos, percebeu que o assunto era só um gancho para falar sobre algo ainda maior.
“Há mulheres no livro que não conseguem engravidar, mas os contos são sobre a impossibilidade do que não se realiza”, diz a autora, que explica: “É imposta à mulher uma obrigação de ser uma mãe perfeita. E, na prática, não é assim”, reflete ela, que é mãe de uma adolescente de 16 anos e comemora o cenário atual, em que as lutas feministas ganham cada vez mais voz.
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“Fui no protesto contra o Eduardo Cunha e sou a favor do aborto”, conta a escritora, acreditando que o lançamento de seu livro veio em um dos momentos mais oportunos para se falar desses temas. “A questão das mulheres como protagonistas é muito importante na literatura, nas artes, na política... Aproveito essa voz como escritora para discutir sobre o que acredito”.