Por roberta.campos

Rio - O gueto está em plena efervescência. Mais especificamente em Madureira, Zona Norte do Rio, onde o rapper Marcello Duguettu está transformando meninos humildes e talentosos do bairro e adjacências para fazer frente aos aspirantes a talento da Zona Sul da cidade. O músico desenvolveu o projeto Ghettu Music Camp, desde dezembro de 2015, criado para estimular o potencial musical dos novos artistas, DJs e produtores.

Para viabilizar o projeto, que será lançado oficialmente amanhã, foi criada a Duto, uma produtora/selo musical, mais especificamente um espaço colaborativo dedicado à elaboração de projetos e produtos no universo da música. “A iniciativa surgiu para atender a uma demanda reprimida de novos talentos da cena”, diz Duguetto.

Os artistas que fazem parte do projeto são conhecidos como campsDivulgação/Ghettu Music Camp

Além do estúdio de gravação, o local abriga um rooftop que serve como área de convivência e permite a realização de hangouts, performances e jam sessions. Os grupos, batizados de camps, já se conheciam de eventos da região e foram convidados por Marcelo para participar do projeto. Hoje eles são dez novos artistas: DJ Arielo, Antiéticos, DJ Tamy, Dorly, Jota Jr y Mancine, DJ LN, Marcão Baixada, Sahell e Will Barros.

“O Marcelo é uma grande inspiração, um mentor para mim”, diz Jota Jr, que já tem com duas músicas 42 mil visualizações na internet desde outubro de 2015.

Duguetto é uma mistura de coach, mestre e amigo dos garotos. “Eu consigo me expressar bem com essa galera. É uma rapaziada comprometida e que está acreditando, corretamente, que o céu é o limite. Muitas vezes, a cultura do subúrbio foi considerada marginal e agressiva, com atitudes estigmatizadas. É o caso dos bate-bolas no Carnaval, do grafite e do rap”, destaca Duguetto.

A rotina dos músicos inclui dois encontros por semana. “No primeiro dia, eles fazem e aprendem produção musical e no segundo dia, oportunizam rede de relacionamentos. São levadas em consideração características técnicas, artísticas e de engajamento nas redes de cada participante. Seus desafios no período precisam ser realizados até a conclusão do projeto. Além de atividades paralelas para aliar capacidade criativa e evolução profissional”, afirma Duguetto.

A camp DJ Tamy é moradora do Parque Anchieta, na Zona Norte, e garante que o projeto já mudou a sua vida: “Estou crescendo e aprendendo com uma pessoa que curte, faz e participa da mesma cena cultural que eu. Esse avanço e a organização que o Ghettu Music Camp está apresentando é de extrema importância para minha vida artística”, diz a jovem de 27 anos, que começou a discotecar em igrejas. “Eu sou discípula de cristo, sacou”, conta, assertiva.

Com origens em Campo Grande, na Zona Oeste, o DJ Will, o W, 28 anos, já tem a cabeça feita, como todo camp que se preza. “Priorizo sempre trabalhar com pessoas que elevem o meu nível musical e me ajudem no conhecimento de novas plataformas”, destaca.

Já o DJ Dorly, 25 anos, tem seis mil seguidores no Facebook e demonstra uma ambição desmedida. “O negócio é ir para o alto e não parar por aqui. Subir cada vez mais”, sonha.

A ideia final do projeto é tornar o mercado acessível aos camps, mas com conhecimento para fazerem suas próprias produções e atuar de forma mais profissional.

Reportagem: Eduardo Minc


Você pode gostar