Por karilayn.areias

Rio - Não se trata de um comentário sobre reality show recém-encerrado. O título da coluna é uma referência a duas estreias cinematográficas que de certa forma retratam um clima de clausura ao mesmo tempo atraente e aterrador aos olhos da sociedade contemporânea.

‘Rua Cloverfield, 10’, produzido por JJ Abrahms, remete logo em seu início ao clima do recente ‘O Quarto de Jack’, que deu o Oscar de Melhor Atriz para Brie Larson. Ambos mostram pessoas enclausuradas, como num big brother cuja única vigilância é a câmera cúmplice do espectador.

‘O Quarto de Jack’%3A Joy e seu filho vivem isolados em um quartoDivulgação

Se em ‘O Quarto de Jack’ a cela reunia mãe e filha presas pela crueldade de um sociopata, em ‘Rua Cloverfield, 10’, uma mulher é recolhida a um bunker após um acidente automobilístico. Lá ela se torna refém de um homem convicto de que o mundo lá fora vive uma invasão extraterrestre. Caberá ao espectador, e não ao crítico, revelar se a paranoia tem ou não fundamento.

Encarcerados também estão os personagens de ‘A Garota de Fogo’, do espanhol Carlos Vermut, considerado por Pedro Almodóvar o melhor da nova safra espanhola. Cada um dos três protagonistas, à sombra da crise econômica, vive em suas prisões particulares: um pai desempregado e sua jovem filha com leucemia; uma burguesa refém de ocultas perversões e um professor idoso no xilindró. Solidões distintas que se intercalam num roteiro ardiloso.

O que filmes e realities shows expressam, cada um a sua maneira, e com evidente vantagem cultural para o cinema, são retratos de uma sociedade que ora celebra a exploração do consumo através da bisbilhotice, ora teme os efeitos de uma repressão alienígena ou de uma depressão econômica. No fundo, o fantasma que assombra o mundo apoderou-se das quatro paredes.

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