Por tabata.uchoa

Rio - ‘Menores de dezesseis serão enjaulados/Tornaremos heróis Cunhas e Bolsonaros”. Em seu terceiro CD, ‘Outono Selvagem’, o rapper mineiro Flávio Renegado cita o ex-presidente da câmara dos deputados Eduardo Cunha e o deputado federal Jair Bolsonaro em ‘Pão e Circo’.

No rap, inclui vários personagens e situações da atualidade, sampleia ‘Geni e o Zepelim’, de Chico Buarque, e refere-se à ocasião em que o compositor teve uma discussão com jovens anti-petistas no Leblon, em dezembro de 2015. “O rapper é um cronista, esse é um disco de crônicas”, conta Flávio, sem medo de que a música — e o disco, por conseguinte — fiquem datados após reavaliações ou mudanças de pauta no dia a dia.

Renegado%3A rapper gravou com Diogo Nogueira e Samuel Rosa no novo disco e uniu rap e bluesDivulgação

“Mais do que as pessoas acharem bom ou ruim eu estar citando esses nomes, é importante que entendam que estou relatando a realidade, não estou tirando da minha cabeça. O rap sempre foi assim, ele já era a internet antes da própria internet”, conta. “A música representa o que a gente está vivendo, como quando você escuta uma canção do Chico Buarque e ela te lembra daquela tensão dos anos 70. A música tem que ter uma interação, tem que ser da nossa realidade”.

Segundo lançamento de Renegado pela Som Livre, ‘Outono Selvagem’ é uma versão expandida do EP ‘Relatos de Um Conflito Particular’, lançado em outubro do ano passado. No EP, cada uma das sete faixas tinha como tema um pecado capital. ‘Vimos que tinha um gancho ali. Cheguei a pensar em dois EPs, mas vi que um álbum fechava tudo”, relata, dizendo que o novo disco abre um novo ciclo em sua carreira.

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“Meus outros discos traziam um diálogo com o pop, com o elemento percussivo. O disco novo vai para o rock, para o blues”, conta Flávio, que fez fusões de rap com blues em ‘Corda Bamba’ (com participação da cantora mineira Joana Rochael) e cantou reggae em ‘Rotina’ (parceria com Gabriel Moura, com o acréscimo dos vocais de Samuel Rosa). Quem também está no disco são Diogo Nogueira (no samba-rap ‘Maldita’, composto com Marco Mattoli e Roberta Gomes, do grupo paulistano Clube do Balanço), Alexandre Carlo, do Natiruts (em ‘Além do Mal’) e o mineiro Sérgio Pererê (em ‘Black Star’), que abre o disco.

“Nessa música, falo de humildade, da questão do negro hoje. Tivemos que aturar 500 anos de escravidão e hoje ainda falam que o negro quando chega a algum lugar tem que ser humilde. Isso é reflexo de uma educação falida. Ainda hoje o negro que consegue notoriedade incomoda”, acredita Flávio, que também compôs duas músicas com Chico Amaral, letrista de boa parte do repertório do Skank. “É um dos meus parceiros mais antigos. Fiz umas trilhas sonoras com ele há anos. Antes, compunha mais sozinho”.

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