Por tabata.uchoa

Rio - A felicidade do Canto Cego ao levar seu rock, nascido e criado na Favela da Maré, para o Festival de Montreux, na Suíça, pode ser vista num vídeo do canal do grupo no YouTube. Em julho de 2015, quando preparavam o CD ‘Valente’ (lançado agora, com produção de Felipe Rodarte), conseguiram tocar no evento, por iniciativa de uma produtora que trabalhou com o grupo e enviou o material. E aproveitaram para fazer a plateia gritar várias vezes o nome da comunidade de origem da banda.

Canto Cego%2C rock da comunidade%3A Rodrigo (E)%2C Roberta%2C Ruth Rosa e Magrão Daniel Seabra / Divulgação

“A gente evitava tocar ‘Alagados’, dos Paralamas do Sucesso (do refrão “Alagados, Trenchtown, Favela da Maré”) porque soava um pouco clichê, sabe? Mas decidimos tocar só para ver todo mundo cantando com a gente”, conta a cantora Roberta Dittz, que divide a banda com Rodrigo Soledade (guitarra), Magrão Kovok (baixo) e Ruth Rosa (bateria). Juntaram 300 pessoas na plateia e consideraram o resultado ótimo. “Quem viu ficou até o fim. Tocamos na noite brasileira do festival, com um DJ brasileiro e uma banda que eles acharam que era do Brasil, mas não era”, completa, rindo. “O vocalista era de Portugal!”

Imortalizada numa canção de rock brasileiro, a Maré é roqueira. “Quando você chega lá, não vê ninguém ouvindo rock alto. Só funk e pagode. Mas qualquer evento de rock lá, enche. As pessoas se surpreendem quando tocam lá”, conta a vocalista. O grupo começou em 2010 e seu nome tem relação com a vivência do grupo na favela.

“O começo da banda foi todo na Maré”, recorda Roberta, lembrando que hoje só a batera Ruth mora lá. “Na época, na Linha Vermelha, estavam cercando a favela com tapumes. Que não eram para proteger ninguém de nada, eram para tapar a favela para quem vem do aeroporto. E os moradores estavam injuriados”.

O nome ‘Canto Cego’ surgiu quando perceberam que, tapada, a favela estava invisível para os cariocas. “Queremos falar sobre esses conflitos, desigualdades. Cada lugar pode ter seu ‘canto cego’”. Essa sensação de invisibilidade já foi vivida pela banda ao batalhar shows. “Já sofremos uma dificuldade natural. As bandas que tinham melhores oportunidades eram as que tinham grana e equipamento melhor. Fomos dando a cara a tapa e melhorando as condições”.

Entre músicas próprias como ‘Nuvem Negra’, ‘Sublime’ e ‘A Fúria’, além de uma regravação rock de ‘Zé do Caroço’, de Leci Brandão, ‘Valente’ tem ainda colaborações com Marcelo Yuka (‘Eu Não Sei Dizer’, só dele, e ‘O Dono da Ordem’, dele com a banda). “Queremos tentar unir poesia com rock”, diz a cantora. “O nome ‘Canto Cego’ já é uma poesia, né?”

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