Por tabata.uchoa
Rio - Hoje é comemorado o Dia Nacional da Consciência Negra. Apesar dos muitos festejos e de alguns avanços, ainda é comum ver negros serem vítimas de preconceito. Com Juliana Alves, a Dora de ‘Sol Nascente’, da Globo, não é diferente.
Juliana Alevs classifica de 'falta de amor' os ataques que sofreu nas redes sociaisJoão Cotta / Globo

“Ao longo da minha vida, claro, fui algumas vezes discriminada por causa do meu cabelo. Dói, é chato. Quando se sofre algum tipo de agressão ou brincadeira que fala do seu aspecto físico, isso interfere na autoestima. A vítima precisa superar e entender que o mais importante é não negar ou fingir que não está vendo. Dentro da nossa cabeça, isso vai para algum lugar nada saudável. O melhor é reconhecer e combater para não se tornar uma pessoa amargurada e magoada”, diz a atriz, que é parceira da ONG Crioula, dedicada ao combate ao preconceito contra mulheres negras.

AGRESSOR NA JUSTIÇA
No fim de agosto, por exemplo, Juliana foi alvo de ataques racistas em seu Instagram — foi chamada de “rata da barriga preta” e “cabelo de vassoura” — e denunciou o agressor. “Acionei meu advogado e a pessoa foi, ou está sendo, notificada pela Justiça”, frisa. “Acho que é falta de amor. A única medida mais eficiente é a educação mesmo, uma cultura mesmo mais inclusiva. Através da educação, previne-se esse tipo de coisa”, completa.
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Apesar desses incidentes, a taurina de 34 anos confessa estar em seu momento muito feliz. Parte disso é por causa do trabalho na TV. Em ‘Sol Nascente’, a personagem de Juliana ganha cada vez mais destaque com um drama que atinge muitas mulheres: a endometriose. Na história, Dora — uma caiçara de uma comunidade quilombola — começou a novela com um casamento perfeito ao lado de Tiago (Marcello Melo Jr.). Eles sonhavam com uma gravidez e, quando ela chegou, o casal descobriu que a mulher possui endometriose, doença que aumenta o risco de aborto.
Apesar de todos os cuidados, Dora é atropelada e perde o bebê. Nisso, a personagem tem uma guinada e passa a destratar o marido, apesar de todo o apoio dele. “Ela tem estresse pós-traumático. A Dora não quer nem sentir o cheiro do Tiago, porque ele a lembra o fato de ela ter perdido o filho. Ela ama o marido, mas não sabemos as consequências da doença no relacionamento deles. Não acredito que ela vá se entregar muito tempo a essa tristeza. Mas ela precisa passar por esse processo agora”, defende.
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SONHO DE CASAR E FILHOS
Na vida real, Juliana está muito bem, obrigado. “Não sinto pressão de ter um filho, mas sei que a hora vai chegar. Assim como casar. Tenho esses sonhos românticos. Eu planejo, mas não programo. Entendi que minha vida é uma constante mudança e sempre me surpreendo estando uma hora aqui e outra lá. Tenho fé em Deus que no momento certo vou realizar tudo”, conta ela, que namora o diretor Ernani Nunes, há seis meses.
BAILARINA DO FAUSTÃO E BBB
Juliana Alves chamou a atenção do público inicialmente como bailarina do ‘Domingão do Faustão’. Dali, em uma festa, na Fundição Progresso, um produtor do ‘Big Brother Brasil 3’ começou a entrevistá-la, e ela nem deu confiança. “Achei que era mentira, era surreal”, lembra. No dia seguinte, ligaram para ela, avisando que estava selecionada para o reality show. O ano era 2003. Foi difícil ficar confinada na casa do ‘BBB’ por cinco semanas? “Hoje, seria mais difícil, mas com 21 anos tudo é mais fácil. Não tinha nada a perder por estar ali”, avalia.
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CAPA DA PLAYBOY
Depois do reality, ela estreou nas novelas em ‘Chocolate com Pimenta’ no mesmo ano e não parou mais. Mas foi depois de duas personagens de sucesso (a divertida Gislaine de ‘Duas Caras’ e a exuberante Suellen de ‘Caminho das Índias’) que a atriz recebeu convites mais efusivos para posar nua.
“Desde 2003, já me chamavam. Mas depois dessas duas novelas das oito, eu queria colocar minha carreira nos trilhos e tomar as rédeas, e ter uma situação financeira melhor que me ajudasse a selecionar trabalhos com mais tranquilidade. Houve uma proposta maior de cachê, conversei com meus pais e topei. As fotos ficaram bonitas. É um trabalho que fico feliz de ter realizado. Não tenho vergonha ou constrangimento. Sabia que não seria fácil. Foram dois dias de fotos. No primeiro, estava travada. A foto da capa foi a última foto que fiz, já estava tranquila”, recorda, aos risos. Toparia posar nua novamente? “No momento, não faz parte dos meus planos, não seria uma proposta financeira que me faria aceitar”, salienta, que foi capa da ‘Playboy’ em outubro de 2009.
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PLÁSTICA E BOTOX
Dona de um corpo escultural, Juliana conta que uma das partes do seu corpo de que mais gosta é o sorriso e diz também que está curtindo muito os cabelos. “O que menos gosto é dos meus pés. Pé de bailarina não é bonito”, brinca. Quando o assunto é cirurgia plástica ou botox, a artista é reticente: “No momento, não faria. Não sei se aos 50 teria vontade”.
A RELAÇÃO COM A FAMA
Para a rainha de bateria da Unidos da Tijuca, o lado negativo da fama está no fato de o artista estar sujeito a julgamentos equivocados. “Por exemplo, ir até a padaria com cara de sono ou estar distraída na rua e acharem que não quis falar. Lido muito bem com o assédio. Só tenho que agradecer o carinho dos meus fãs”, observa.
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Criada na filosofia ubuntu — que trata da relação indivíduo-comunidade — Juliana encara a fama de uma maneira altruísta. “O meu sucesso me deixará mais feliz quando ver os meus irmãos, iguais, terem oportunidades e sucesso também. Quando se tem isso enraizado na forma de ver o mundo, tudo muda”, frisa.