Por thiago.antunes

Rio - Em um parque de diversões. É assim que a atriz Mariana Xavier se sente. “Quando vejo onde estou hoje, lembro que era uma menina de 9 anos, que fazia teatro e ficava na frente da Herbert Richards (estúdios na Usina), tirando fotos e pegando autógrafos dos artistas. Na época, a Globo gravava muitas novelas lá e era ao lado da casa da minha avó. Sonhava um dia estar na TV. Hoje, digo que me sinto na Disney”, conta animada.

'Minha saúde está ótima. Faço exercício. Não sou o estereótipo da gorda que fica no sofá com a panela de brigadeiro no colo. Sou extremamente ativa'%2C conta Mariana XavierMárcio Mercante / Agência O Dia

A atriz, que completa 37 anos em maio, está no ar na novela das nove, ‘A Força do Querer’. “Acho que a Abigail é a personagem mais parecida comigo até hoje. Ela engrossa um coro que eu, Mariana, já faço há anos. Essa coisa do amor próprio, da autoestima e de combater os preconceitos com naturalidade”, diz.

“Ela não tem medo da palavra gorda. Diz que é uma gorda saudável, feliz. Ela se ama, usa lingerie, sem noia. É uma honra e uma alegria ter a Gloria Perez como aliada para uma causa minha. Ela é uma mulher muito forte. As personagens dela são sempre mulheres muito fortes. Gloria sempre traz ao debate assuntos que precisam ser discutidos, descortinados”, esclarece Mariana sobre sua personagem, que se tornará uma modelo plus size ao longo da trama.

A carioca salienta que apoia causas em torno da defesa ao direito à diversidade e contra o assédio. “Mas não gosto tanto da expressão ‘Orgulho Plus Size’. Acho que isso pode ser distorcido. Podem achar que é uma apologia à obesidade, que estamos dizendo que ser gorda é maneiro e convidando as pessoas a serem também. Não é isso. Minha batalha é pelo respeito ao direito de as pessoas serem felizes como querem, podem e conseguem”, desabafa.

A pluralidade também está presente nas plataformas em que a atriz está atuando: além do folhetim no horário nobre, está em cartaz com a peça ‘O Último Capítulo’, no Teatro do Fashion Mall, e prestes a lançar o filme ‘Gostosas, Lindas e Sexies’, sobre quatro amigas que vestem manequim plus size e vivem aventuras profissionais e amorosas na cidade de São Paulo. “Uma coisa ‘Sex in The City’ à brasileira, de gordinhas”, diz Mariana sobre o filme que aborda temas como o papel da mulher na sociedade atual.

E tem mais: a intérprete também se aventura na literatura e divulga o livro de crônicas ‘Gordelícias’, ao lado das atrizes Simone Gutierrez, Cacau Protasio e Fabiana Karla, colhendo os frutos do seu canal no YouTube ‘Mundo Gordelícia’. E ela? Está toda prosa com as conquistas. Mas não muito.

'Não gosto de tratar nada como linha de chegada. Não quero nunca ser acomodada'Márcio Mercante / Agência O Dia

“Não gosto de tratar nada como linha de chegada. Não quero nunca ser acomodada. Acredito que só estou chegando onde estou porque sempre tratei cada oportunidade como a grande oportunidade da vida. Cada participação de uma fala na TV agarrei como se pudesse ser a grande chance. Fiz uma escalada, degrau por degrau”, diz.

Minha Mãe é Uma Peça

Mariana quase não foi Marcelina, sua personagem mais famosa, no filme recordista de bilheterias nacionais. “Não conhecia o Paulo Gustavo, mas tínhamos uma amiga em comum. Ela me disse que ele ia fazer o filme e que falaria de mim para ele. Como não fico esperando nada cair do céu, fui ver a peça dele e me apresentei no final. Paulo me olhou de cima a baixo e disse: ‘Mas para fazer Marcelina?’ E eu respondi que sim. E ele: ‘Mas você é mais para magrinha, né amor? Você é gordinha, mas é gata. Marcelina é imensa’, falando daquele jeito dele. Era novembro de 2011. O assunto parou ali”.

A atriz revela que começou a querer emagrecer na época, porque achou que isso poderia estar limitando suas possibilidades como atriz. “Perdi 5 kg em um mês, sem remédio. Aí pintou o teste do filme. Quase não fiz. A sorte é que tive anjos no meu caminho que me perguntaram se eu estava louca: ‘É o Paulo Gustavo! A pessoa que está mais bombada neste país. Emagrece depois, se for o caso’.

Atriz sonha em fazer musical e viver uma vilãMárcio Mercante / Agência O Dia

Além disso, existia a diferença de idade: Mariana estava com 32, e Marcelina tinha 18 anos. “Fui fazer o teste desacreditada. Mas quando desencanamos, rola. O filme é um fenômeno desde o primeiro. O segundo deu 9 milhões de espectadores, dobramos. É sensacional. Recebo muito carinho do público. Marcelina virou gíria. Eu mesma digo que estou com fome de Marcelina”.

Previsão

“Olha, nunca falei sobre isso em entrevista. Antes de fazer o teste do filme, passei um mês na Europa. Falei com um guru lá, virou um amigo. E ele disse: ‘Você está prestes a uma grande explosão em todos os campos da sua vida. Daqui a dois anos, vai ser tão famosa que não vai ter tempo de falar comigo. Você só precisa descobrir o que quer. No dia que descobrir o poder que tem aí dentro, ninguém te segura’. Me arrepio lembrando”, confidencia. “Quando voltei dessa viagem, pintou o filme. Desde então, parei com a noia de emagrecer”.

De bem com o corpo e com a saúde

“Minha saúde está ótima. Monitoro e faço exames. Faço exercício. Não sou o estereótipo da gorda que fica no sofá com a panela de brigadeiro no colo. Sou extremamente ativa. Se minha saúde física e mental está ótima, se estou tendo ótimas oportunidades de personagens, e recebo um retorno enorme do público que se sente representado, por que mexer nisso agora?”, reflete.

“Tem gente que acha que o fato de você dizer que está feliz gorda significa que você está assinando um atestado que vai ficar assim para sempre. O dia que isso não me trouxer mais felicidade ou se a minha saúde começar a pifar, ou eu não gostar mais do que vejo no espelho, é um direito meu mudar. E vou fazer isso”.

Ela quer mais

“Não faço grandes planos. Quero fazer um musical e sonho em fazer uma vilã, todo ator sonha. Acho que eu, enquanto gorda, sonho mais, porque todo mundo acha que a gorda sempre é a legal. Existe a má na vida real, porque não na ficção? Quero o direito de não ser legal. Falo isso no livro”, diverte-se.

Mariana também adoraria estar namorando. “Estou no Tinder, nos aplicativos de paquera. Estou tentando. Meu slogan é: quem corre por gosto não se cansa. Arrumo tempo. Tenho vontade de encontrar um cara muito legal”, ri. “Não sou do tipo que faria produção independente. Filho natural, para mim, é fruto de uma relação bacana. E eu ainda estou buscando essa relação”. 

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