Por tabata.uchoa

Rio - Foi uma cena pequena, mas impactante, em ‘A Força do Querer’, de Gloria Perez. Jane Di Castro arrasou e enche de orgulho fãs e amigos. E os telefones não param. A diva fez quatro filmes e perdeu a conta dos shows e peças. Foi dirigida por Bibi Ferreira e fez com Nelson Motta ‘Tributo a Carmem Miranda’, no Lincoln Center, ao lado de artistas como Bebel Gilberto e Maria Alcina. Jane conversou com a coluna.

Jane com a diretora do filme ‘Divinas Divas’%2C Leandra Leal%2C e a amiga RogériaReprodução Internet

Como vai o coração?

Este ano, faço 50 anos de casada com Otavio Bonfim. O início foi tumultuado, era época de muito preconceito, da ditadura... Ele perdeu empregos, sofreu muito porque me assumi e sempre foi muito digno. Ele se apaixonou quando viu ‘Vem Quente Que Estou Fervendo’, no Teatro Rival, em 1967. No final da apresentação, Otavio fez uma declaração de amor e estamos juntos até hoje.

E como vão comemorar?
Vamos comemorar em cena, com um show, porque ele me conheceu assim. Será a peça ‘Bodas de Ouro’.

Fale da carreira...
Estreei em 1966, no Teatro Dulcina em ‘Negueus’. O primeiro musical só com travestis liberado pela censura. Naquela época, shows com travestis eram proibidos de dia. Foi dirigida por Bibi Ferreira, Ney Latorraca, a cantora Marlene, Carlos Imperial... Monstros da cena brasileira.

Como é sua participação na novela de Gloria Perez?
Vou viver eu mesma e tenho certeza de que Gloria vai abordar o tema trans muito bem. Ela é um luxo e as novelas são muito esclarecedoras. Gloria é uma mulher maravilhosa. Não é a minha primeira novela. Nos anos 90, fiz ‘Explode Coração’. Depois, cantei em ‘Salve Jorge’. É a terceira e será uma grande participação. Estou muito feliz. Foi um grande presente. Pela primeira vez, faço uma novela em que meu nome está na abertura. Espero ser uma boa representante para nossa classe. Sou um transexual do povo brasileiro. Sei muito bem da dificuldade que um trans tem para arrumar um emprego. Melhorou muito, mas ainda tem que melhorar mais. Com essa novela, a Gloria vai esclarecer muita coisa. Vai abrir a cabeça de homofóbicos, preconceituosos... Vai ser muito bom. Muita gente vai entender que nós não viramos, nós nascemos assim. Eu sou igual a Gabriela: “Eu nasci assim, vou viver assim, vou morrer assim... Gabrieeeeela” (risos).

Já sofreu preconceito?
Sofri na adolescência. Todo mundo notava que eu era diferente, tive problemas com a família e vizinhos.

Como é sua amizade com a Rogéria?
Somos amigas de muitos anos. Começamos juntas, ela em 63 e eu em 66. Fizemos vários espetáculos juntos. Tenho muito carinho, ela é uma pessoa amada pela público.

Quem faz seus figurinos?
Desenho e mando fazer. Às vezes, a Eloina, dos Leopardos, desenha e mando executar. Gosto de escolher minhas roupas. Me dão coisas de presente, mas às vezes modifico. Só uso o que gosto e o que me cai bem.

Projetos para 2017?
Completo 51 anos de carreira e fiz um filme com a Leandra Leal, que irá estrear na segunda quinzena de junho, num festival no Texas, Estados Unidos. Ganhamos quatro prêmios e a obra relata nossa história. É lindo! Leandra é nossa musa.

Um momento marcante?
No filme ‘A Inevitável História de Leticia Diniz’ fui protagonista e ganhamos um prêmio, no Festival Mix Brasil. Pude mostrar meu talento de atriz desprovida de qualquer glamour.

Um sonho e um beijo?
Era fazer uma novela da Gloria Perez. O beijo para Gloria e Leandra Leal, meus anjos da guarda. 

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