Ana Lucia Torre, a Adinéia de 'O Outro Lado do Paraíso' - Raquel Cunha/TV Globo
Ana Lucia Torre, a Adinéia de 'O Outro Lado do Paraíso'Raquel Cunha/TV Globo
Por Gabriel Sobreira

Rio - Na última quinta-feira foi celebrado o Dia Internacional da Mulher. Mas há realmente motivos de fato para comemorar? "Comemorar o quê? A mulher ainda está lutando pelos seus direitos, pela sua vida. Tem mãe que tem o menino no colo e ele chora de fome, e essa pobre mulher não sabe como fazer. Eu acho que a mulher está caminhando, lutando para ter os seus direitos, para ser respeitada, para não ser um objeto, mas ainda falta", avalia a atriz Laura Cardoso, de 90 anos, que interpreta a Caetana em 'O Outro Lado do Paraíso', da Globo.

Para a também atriz Ana Lucia Torre, 72, a intérprete da Adinéia na mesma novela, a mulher para conseguir qualquer coisa sempre teve que fazer um esforço duplicado. "Se a mulher sofreu tanto, ela não tem que oprimir. Eu acho que não tem que ser um na frente do outro; tem que ser lado a lado. É assim que se constrói, seja na amizade, seja na relação de trabalho, seja no amor. Só existe amor quando há compreensão, solidariedade, amizade", pondera.

As veteranas contam que não sofreram discriminação no começo da carreira. "Mas sempre ouvi coisas. Sempre ouvi histórias desde sempre das minhas colegas lá dos anos 30, anos 40, e eu acho que isso continua infelizmente até hoje", diz Ana Lucia.

Aborto

Segundo as estatísticas do Ministério da Saúde, mais de 200 mulheres morreram em 2015 após tentativas de interrupção da gravidez. Se uma mulher for descoberta ao tentar o aborto, pode ser condenada a até três anos de prisão, e o médico que realiza o procedimento a até quatro anos. Para Laura Cardoso, a saída é uma só. "Sou a favor da legalização do aborto. Por que fazer escondido, meu Deus? Que absurdo. Deveria ser apoiado. Vai para um hospital, onde tem todos os recursos, porque sendo proibido, muita mulher morre, vai na vizinha do lado e faz. Tinha que ser legalizado, sim", defende. Já Ana Lucia é mais comedida. "Acho que isso decorre de uma deficiência cultural muito grande. É uma questão que precisa ser vista com mais atenção", resume.

Proteção

Há apenas 86 anos, as mulheres brasileiras ganharam direito ao voto. A Lei Maria da Penha é de 2006. A Lei do Feminicídio (que torna assassinato de mulheres um crime hediondo) foi sancionada só em 2015. Apesar dos avanços e das conquistas das mulheres, acredita que elas são suficientes? "Quanto à Lei Maria da Penha, é claro que é um avanço. Mas a mulher ainda sofre muito medo com a opressão. Sei também que, embora existam leis de proteção à mulher, muitas vezes, ela se depara, dentro das próprias delegacias, com preconceito das pessoas. Mas é importante denunciar", defende Ana Lucia.

Laura observa que tem que haver mais avanços, mais conquistas, mais direitos. "Agora deu uma parada. As mulheres estão conseguindo uma forma de respeito, de trabalho, de equiparação. Mas se o homem ganha 100 e ela ganha 30, isso não está nada certo", critica a veterana.

Machismo

Ana Lucia acredita que o machismo estará com os dias contados quando a mulher criar os seus filhos "como seres humanos e não machos". "Porque a gente sabe que, na nossa sociedade, 80% da criação dos filhos dependem da mulher. E essa mulher que tanto reclama da sua própria situação cria o filho para perpetuar esse machismo. Então, mulheres, vamos nos unir pela nossa defesa começando com os nossos filhos em casa, criando-os para que eles sejam respeitadores. Para que entendam que, para serem respeitados, eles têm que respeitar", ensina.

 

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