
Rio - Quem vê Ferrugem desenvolto no palco, seja nos shows, seja no primeiro DVD 'Prazer, Eu Sou Ferrugem' - que acaba de lançar - nem imagina. Mas o sambista de 29 anos (faz 30 no dia 20 de outubro) nem pensava em cantar, no começo.
"Eu era muito tímido", conta Jheison Failde de Souza, o popular Ferrugem. "Eu achava que isso de assumir a liderança não era pra mim. Tocava percussão num grupo de pagode, o Manda V, em Campo Grande. Já era uma coisa mais profissional, com horário pra tudo, van na porta. Aí, o cantor saiu e me convenceram a cantar". Ferrugem espelhou-se em ídolos como Péricles e Thiaguinho e foi em frente. "Depois, eu descobri que podia cantar nas músicas tudo o que eu queria dizer para as meninas", brinca.
Incrivelmente, apesar do acanhamento inicial, a carreira de Ferrugem começou a despontar no YouTube. O sambista é viciado na plataforma de vídeos e, não por acaso, lançou 'Prazer, Eu Sou Ferrugem' no YouTube Space, no Rio. "Vejo pelo menos um vídeo diferente por dia, sou consumidor assíduo. YouTube foi uma ferramenta fundamental para eu conseguir fazer shows fora do Rio sem tocar no rádio e sem aparecer na televisão. No começo, era só brincadeira. Estava na casa de algum amigo e a gente começava a tocar alguma música inédita. A gente gravava e jogava no YouTube. Hoje é que a gente tem um trabalho mais profissional".
SAMBA BLUES
'Pirata e Tesouro', música nova, liderou o ranking de sambas mais ouvidos durante o Carnaval, segundo a Billboard Brasil. Ela está no DVD, ao lado de sucessos como 'O Som do Tambor', 'Você e Eu' (dedicada a Juliana, sua ex-mulher e mãe se dua filha mais velha, morta em 2015 após lipoaspiração), 'O Meu Coração Tem Medo', 'Climatizar'. Péricles, Bruno Cardoso (Sorriso Maroto), Thiaguinho, Suel, Marcos & Belutti e Ludmilla entram como convidados. E em meio às faixas, acha-se até uma música chamada 'Samba Blues' - que, apesar do nome, é bastante otimista, falando em fé e esperança.
"O maior desafio que eu tive foi o de mostrar para o público que eu não queria seguir a moda, cantar o que todo mundo cantava. Gosto de gravar aquilo que ninguém grava, colocar minha verdade ali. Sempre ouvi muito samba antigo, mas sempre fui fã de Soweto, Revelação, Katinguelê. Tentei misturar as duas coisas", conta Ferrugem, fã de samba tradicional, pagode, black music e rap. Por sinal, o visual rapper e a pele branca já lhe renderam o apelido "Eminem do pagode", referência ao rapper branco norte-americano.
"Adoro rap, escuto 24 horas por dia. Os caras do rap estão lá na frente, pensam na frente. Hoje, o que eu menos escuto em casa é samba. Preciso beber de outras fontes, acrescentar mais coisas ao meu trabalho", comenta Ferrugem, que não consegue sequer ter muitas lembranças da gravação do DVD, no Barra Music, em 19 de outubro do ano passado. "Eu estava em transe!", diz, rindo. "No fim do show, falei com minha mãe que estava com muita dor no corpo todo, parecia que eu tinha levado uma surra. Nossa proposta era gravar o DVD direto, sem errar. E queríamos fazer um DVD que não fosse só mais um. Pra você ter uma ideia, só fui perceber que tinha gravado um DVD quando voltei para o hotel".
O destaque que 'Tesouro e Pirata' recebeu no Carnaval, ele nem acredita. "No Carnaval, as pessoas querem saber mais é de... (imita um batuque de pandeiro com a boca). E minha música é um pagode romântico! A gente passa um tempão buscando qualidade pro trabalho, e saber que as pessoas ouviram, ainda mais nessa época, é ótimo. E quem ouviu passa para outra pessoa, e mais pessoas vão ouvindo", alegra-se o cantor, que é pai de duas filhas, Sophia e Julia - recentemente reatou o casamento com Thaís Vasconcelos, mãe da mais nova.
"A Sophia tem seis meses e gosta de ver meus vídeos. A Julia tem seis anos e o negócio dela é funk. Ela acha pagode coisa de velho!", diz, rindo. "Consigo convencê-la em uma ou outra coisa, mas ela tem o gosto próprio dela. E é isso aí. Música é democracia".
SOMOS AMIGOS
Ferrugem se define como um cara que gosta de fazer amizades e de agregar. "Tem muito fã que virou meu amigo. Gosto quando os fãs dão sugestões, quando dizem o que não está dando certo e o que está funcionando, o que acharam dos discos, do DVD. Além de cantar, sou o balcão de reclamações, também!", brinca ele, que no DVD é visto acenando para pessoas da plateia - algumas acompanham o trabalho dele desde Campo Grande. "Agora mesmo vou pra Sergipe fazer um show. Não vou lá há dois anos. Não posso só fazer o show e tirar meia dúzia de fotos. Vou lá encontrar os fãs. Muita gente lá não me vê há bastante tempo. No fim do ano, faço uma festa para os fãs do Brasil aqui no Rio. É o mínimo que posso fazer para agradecer a todos".
A amizade se estende também à maneira como Ferrugem encara o lado profissional. O cantor diz que sua banda é formada por amigos - e que encara tudo mais como um grupo do que como uma carreira solo. "O cara vai no meu show não só pra me ver cantar, como também para ver o Cepakkol (pandeirista de sua banda) tocando. Tem gente que está comigo que é meu amigo há dez anos. A gente não está ali só para ganhar dinheiro. No começo, não rolava grana, não tinha sucesso, e minha energia era a mesma. O importante é o foco na amizade e na música. A gente toca por cauda disso", relata.